Em 1928, Virginia Woolf foi convidada para falar sobre a relação entre mulher e ficção em duas faculdades só para mulheres dentro da Universidade de Cambridge. Depois, ela passou meses aperfeiçoando e unificando os discursos que resultaram no ensaio Um Teto Todo Seu, considerado até hoje texto importante para o feminismo.
Nele, Virginia tenta explicar a escassez de escritoras como um resultado da opressão feminina por tantos séculos. "Uma mulher precisa ter dinheiro e um teto todo seu, um espaço próprio, se quiser escrever ficção", sintetiza a inglesa. No entanto, era possível para uma garota ter seu dinheirinho no século XIX? Era possível ela se concentrar em seu canto sem ser interrompida por marido e filhos? Pois bem. É basicamente essa a tese que Virginia tentará mostrar em pouco mais de 150 páginas.
Eu já li praticamente metade da obras de ficção da autora, porém nunca tinha lido seus ensaios. Achei que o texto é muito mais simples, embora o estilo persista.
Selecionei os trechos mais interessantes para compartilhar aqui, mas torço muito para que você fique com vontade de procurar a obra integral:
"Sem autoconfiança, somos como bebês no berço. E de que modo podemos adquirir essa qualidade imponderável, que também é tão inestimável, o mais rápido possível? Pensando que as outras pessoas são inferiores."
Virginia Woolf defendendo que a repressão feminina é uma forma dos homens se sentirem mais seguros
"As mulheres têm servido há séculos como espelhos, com poderes mágicos e deliciosos de refletir a figura do homem com o dobro do tamanho natural (...) Como ele continuará a fazer julgamentos, civilizar nativos, criar leis, escrever livros, vestir-se bem e discursar em banquetes, a menos que consiga ver a si mesmo no café da manhã e no jantar com pelo menos o dobro do tamanho que realmente tem."
"Não é preciso ter grandes habilidades em psicologia para afirmar que qualquer garota muito talentosa que tenha tentado usar seu dom para a poesia teria sido tão impedida e inibida por outras pessoas, tão torturada e feita em pedaços por seus próprios instintos contrários, que deve ter perdido a saúde e a sanidade, com certeza."
"A indiferença do mundo, que Keats, Flaubert e outros homens geniais achavam tão difíceis de suportar, não era, no caso dela, indiferença, mas hostilidade. O mundo não dizia a ela, como dizia a eles: 'Escreva se quiser, não faz a difereça para mim'. O mundo dizia, gargalhando: 'Escrever? O que há de bom na sua escrita?'"
"Todos os relacionamentos entre mulheres, pensei, repassando rapidamente a esplêndida galeria de mulheres ficcionais, são muito simples. Muita coisa foi deixada de fora, sem ser abordada. E tentei me lembrar de algum caso, no decorrer das minhas leituras, em que duas mulheres tivessem sido representadas como amigas. (...) Suponham, por exemplo, que os homens fossem retratados somente como os amantes das mulheres, e nunca fossem amigos de homens, ou soldados, pensadores, sonhadores; poucos personagens das peças de Shakespeare poderiam ser a eles atribuídos; como a literatura sofreria!"
Sobre o problema das mulheres terem sido, por tantos anos, representadas por homens
"Seria mil vezes uma pena se as mulheres escrevessem como os homens, ou vivessem como eles, ou se parecessem com eles, pois se dois sexos é bastante inadequados, considerando a vastidão e a variedade do mundo, como faríamos com apenas um?"
"E há também a moça atrás do balcão - eu preferia sua história real à centésima quinquagésima vida de Napoleão ou o septuagésimp estudo sobre Keats e seu uso da inversão de Milton que o velho professor Z. e seus semelhantes estavam escrevendo ultimamente."
"É fatal ver um homem ou uma mulher pura e simplesmente; é preciso ser feminil-masculino ou másculo feminino."
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