A gente lê: Jakob Von Gunten
Novamente, resolvi pular numa sugestão da editora da Companhia das Letras Vanessa Ferrari e conhecer uma obra que nunca tinha ouvido falar. Desta vez, foi Jakob Von Gunten - Um Diário, do suíço Robert Walser.
Escrito em 1905, é o diário de um jovem fictício de família rica que se interna em uma escola de formação de criados.
Quando começamos a ler os relatos de Jakob, ele já está no Instituto Benjamenta há um tempo e tenta mostrar gratidão por ter se livrado do seu orgulho e individualidade em prol da arte de servir.
Só que Jakob é malandro. Logo nas primeiras páginas, percebemos que não é nenhum um pouco confiável. O "herói" não se sujeita, descreve os colegas de maneira ironicamente cruel (coitado de Krauss, o aluno-modelo do Instituto) e ainda tem como passatempo provocar o velho Sr. Benjamenta - o dono da escola.
Acontece que eu nunca tinha topado com uma narrativa como essa. Sabe aqueles saltos no tempo que os narradores em primeira pessoa costumam dar para se apresentar (e se aproximar) do leitor? Pois é, Walser resolveu não fazer isso.
Como se fosse de carne e osso, o personagem escreve em tempo real, sem necessidade de explicar quem foi, onde nasceu, chegou ali. O que nos resta é ler o presente e tentar encaixar as pecinhas.
É por suposição que entendi que o Instituto ia mal das pernas, sobrevivendo em uma sociedade que já não admitia mais a relação de criadagem pregada ali. Também é pelo achismo que vi um triângulo amoroso entre o protagonista, o Sr. e a Sra. Benjamenta.
Talvez.
O romance começou, terminou e Jakob continuou sendo um completo estranho para mim.
Imagino que em virtude dessa distância da narrativa, tive dificuldade de criar vínculo com a história. Resultado: eu começava a ler o livro e logo me pegava pensando na morte da bezerra. E é duro dizer isso de uma obra que sei que é prima.