A gente lê: A Sangue Frio, de Truman Capote + filme Capote + contribuição de Harper Lee
Em 15 de novembro de 1959, cada membro de uma próspera família americana levaram um tiro no rosto. O já consagrado escritor e jornalista Truman Capote viu uma notinha no jornal sobre esse crime e pediu para cobri-lo para a famosa revista de reportagens 'raíz' New Yorker.
De início, acho que ele queria apenas mostrar as consequências de algo bárbaro para uma cidadezinha americana pacata - até então, os habitantes de Holcomb, no Kansas, sequer trancavam as portas à noite. Só que em pouco mais de um mês, os criminosos foram pegos, presos e condenados à morte. E é aí que Capote tem a chance de criar um dos romances de não ficção mais importantes da história, A Sangue Frio. O escritor fez visitas frequentes nas celas de Perry e Dick durante os seis anos em que eles esperaram pela forca e até assistiu às execuções e, com isso, acabou conquistando um ponto de vista jamais alcançado na literatura.
Ora, então significa que o leitor sabe desde o começo quem são os assassinos e qual será a punição deles? Aham. Mas, mesmo assim, você vai ficar louco para saber suas motivações e outros mistérios que vão surgindo ao longo das 400 páginas. Acho ainda que a obra é bem importante para refletir - dessa vez com fatos - sobre pena de morte.
O texto A Sangue Frio foi publicado aos picados em quatro edições da New Yorker de 1965 (eita, editor santo esse que financiou uma reportagem durante seis anos!) e, meses depois, saiu na íntegra em formato de livro.
Comparação com o filme Capote, de Bennett Miller
Lançado em 2006, o filme Capote (tem no Netflix!) revela os bastidores da feitura do livro A Sangue Frio. Obviamente, vale assistir depois da leitura.
O escritor foi muito questionado sobre a veracidade de sua narrativa, e o longa mostra com precisão que muitas falas atribuídas a um ou outro personagem do livro foram raciocínios de Capote. A interferência não para por aí: o autor teria pagado advogados particulares para Dick e Perry com a finalidade de manter suas fontes vivas (e falantes) por seis anos. O filme insinua também que, quando já estava esgotado da história, Capote simplesmente largou a mão do apadrinhamento.
Acho que nada disso desmerece a obra, pois precisão jornalística é uma mentira. O próprio filme tem incongruências em relação à história (aquele discurso final de Perry, por exemplo, não é o mesmo do livro ou estou maluca?).
Outra curiosidade bem explorada pelo diretor Miller é a colaboração de Harper Lee com A Sangue Frio. A escritora viajou com Capote para Holcomb e foi fundamental nas entrevistas com os arredios habitantes da cidadezinha. Meses depois, lançaria sua grande (e única) obra-prima, O Sol É Para Todos, livro em que Capote aparece criança escondido pelo personagem Dill.
Mas, na minha opinião, a influência vai além, porque encontrei paralelos na ideologia por trás de uma obra e outra. Se O Sol É Para Todos é um infanto-juvenil cuja moral é "você só entenderá uma pessoa quando andar sob seus sapatos", A Sangue Frio aplica empatia na prática. Capote só conseguiu fazer o livro porque refez os passos de cada envolvido no crime. Até demais, porque dizem as más línguas que ele se apaixonou pelo bandido Perry. Nunca saberemos.
Tanto a obra de Harper como a de Capote são magistrais, acho que você tem que se cadastrar agora no Shereland e colocar as duas na sua wishlist de leitura.
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