A gente lê: Um Copo de Cólera
Na primeira vez que peguei um livro de Raduan Nassar, não consegui avançar muito. Lavoura Arcaica havia sido recomendado por um professor querido, mas lembro que, para mim, a leitura não passou de frases aglomeradas que eu não era capaz de entender.Frustrada, coloquei o exemplar na minha estante para pegá-lo de novo dez meses depois. Aí, sim, fluiu. Pois é, na segunda vez, consegui me acostumar àquele estilo tão garboso e gostei. Caso encerrado.
Só voltei a me preocupar com Raduan quatro anos após aquela empreitada, quando fiz um curso com a editora da Companhia das Letras, e Vanessa Ferrari defendeu que o escritor é um dos melhores contemporâneos, pois ele une "apuro estilístico com domínio da língua". Então tentei avaliar essa opinião e não consegui. Percebi que não me lembrava nada de Lavoura Arcaica. Nada.
Foi esse apagão que me estimulou a começar Um Copo de Cólera, novela de menos de 90 páginas, mas que demandou tanto fôlego...
"lá tá ele metafisicando, o especulativo... e se largo as rédeas, ele dispara no bestialógico... não vem que não tem, esse papo já era"
A fala acima, pertencente à personagem mulher do livro, resume um pouco o que encontrei.
Desde o começo do livro, o homem provoca a mulher, até que tudo vira uma discussão épica em que as agressões mais baixas serão ditas. Essa é a trama. Talvez o personagem duro tenha sido baseado naquele pai de Lavoura Arcaica, um tipo capaz de deixar qualquer um ranzinza.
O estilo de Raduan, não existe outro correspondente. O que não consigo dizer é se entendi o livro e nem se gostei. Fico pensando se, talvez, não valha deixar guardado na minha estante e pegá-lo novamente daqui a dez meses.