Dicas de escrita, por Gay Talese
No último post, falei sobre Vida de Escritor, de Gay Talese.
Bom, Gay Talese escreveu para publicações americanas de renome como a Times e a Esquire e acabou se destacando no jornalismo literário, um estilo inovador de fazer reportagem que surgiu na década de 1960. O autor se intitula um "escritor-jornalista", ou seja, ele se apropria do modo de narrar dos literatos para contar os fatos que apurou.
Em Vida de Escritor, Talese solta várias dicas sobre seu método para criar textos. Fiz um apanhado delas que vão interessar você que gosta de botar o lápis para trabalhar de vez em quando:
- Divida seu tempo entre hora da criação e hora da revisão
Gay Talese é disciplinado e divide sua jornada de trabalho em dois períodos de quatro horas: a manhã ele usa para criar, depois faz uma pausa (também de quatro horas) e, à noitinha, revisa minuciosamente o que produziu naquele dia.
- Confinamento para evitar enrolação
"Quando, no trabalho de um escritor, ocorre um bloqueio de criação, esse escritor pode ser muito criativo para encontrar formas de fugir do trabalho", diz Talese. Por isso, no momento de escrever, o jornalista deixa ao seu alcance tudo o que precisa (inclusive "uma bandeja de muffins e uma garrafa de café quente") para não ter que ficar fazendo pausas.
- Pode ficar melhor
Nada de jorros à Kerouac. Talese para a cada frase formada e tenta melhorá-la ao máximo, invertendo e substituindo as palavras "até eu julgar que tinha acabado uma oração ou que ela acabou comigo", brinca.
O texto é escrito a mão e em letras de forma em um bloco amarelo e, depois de completar três ou quatro páginas, o autor transcreve o conteúdo para o computador, fazendo uma nova revisão.
- Pesquise, pesquise e, quando cansar, pesquise mais um pouco
Talese defende que um livro começa a ser bolado em bibliotecas, arquivos e entrevistas com pessoas envolvidas no assunto. "Das informações que recolho das pessoas, 80% terminam na cesta de lixo. Ainda assim, eu não teria conseguido descobrir os 20% úteis sem abrir caminho através dos 80%, que acabam virando lixo", calcula.
- Entrevistas devem ser feitas ao vivo
Vai fazer uma biografia ou um livro-reportagem? Então esqueça o telefone ou e-mail! Talese acha importante ficar de cara com seus entrevistados para captar "sensações visuais e descrever a atmosfera do ambiente do encontro". Ah, jamais interrompa suas fontes "pois nesses momentos hesitantes e confusos as pessoas quase sempre são muito reveladoras", explica.
- Dedique-se a mais de um projeto ao mesmo tempo
Quando der aquela enroscada para trocar de um parágrafo para outro, não hesite: pule para outra história. Sim, Talese mantinha pastas onde arquivava seus inúmeros projetos inacabados e, assim, transitava entre um e outro ao longo dos anos.
Vai mesmo continuar escrevendo? Então fique com essa reflexão final
"por que não estou escrevendo este livro mais depressa? Estarei sofrendo de 'bloqueio de escritor'? Não, você não está sofrendo 'bloqueio de escritor', está apenas mostrando bom senso ao não publicar nada por enquanto. Você está mostrando consideração para com os leitores ao não lhes dar texto ruim. Muitos escritores deviam fazer o que você está fazendo - não escrever. Já existe muito texto ruim por aí, para que mais?"Leia mais:
A gente lê: Vida de Escritor
Cinco coisas que você deve saber antes de publicar seu livro
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