O Roda Viva é um programa tradicional da ainda viva TV Cultura. Uma personalidade fica no centro do cenário, enquanto outros jornalistas sentam ao seu redor e o bombardeiam de perguntas. Os dez anos da atração em 1996 foram comemorados com entrevista com ela, a musa Lygia Fagundes Telles.
Apresentado pelo jornalista Matinas Sukuki Junior, os entrevistadores foram Ignácio de Loyola Brandão, José Castello, Ana Miranda, Jorge Escosteguy, Rinaldo Gama e Claudiney Ferreira.
Vejam o que a escritora falou sobre os tópicos escolhidos por eles:
Sobre a paixão pela palavra:
"Sem paixão e sem amor, mesmo com competência, você não consegue dar conta do seu ofício"
"Eu prefiro ultimamente lutar mais com as palavras do que lutar com as pessoas, as pessoas estão mais difíceis"
"Essa paixão que é tão antiga é a vocação, o chamado (vocare em latim): nós somos chamados e cumprimos sem exigir dessa vocação o sucesso.
Sobre lidar com as pessoas:
"O planeta está enfermo. Por que há um medo que se espalhou no mundo, o medo físico, o medo universal. Este medo faz com que as pessoas fiquem mais complicadas, embrulhadas."
"A minha palavra é a única forma de atingir o meu próximo. Eu procuro fazer com que essa palavra seja como uma espécie de ponte que se estende para o próximo e eu, através dessa ponte, eu digo 'vem até onde eu estou". Se eu puder ajudar o meu próximo no seu sofrimento, no seu medo, na sua luta - que é a minha luta também, e que é o meu medo, e que também é o meu sofrimento. Se eu puder ajudar o outro com essa palavra, missão cumprida. Quando a morte olhar nos meus olhos e disser vamos, eu digo estou pronta, eu fiz o que eu pude."
"Eu não quero ser compreendida, o amor me parece ser importante."
Sobre a loucura, tema tão recorrente em seus textos:
"A temática me persegue de certo modo, às vezes até usam máscara. A loucura, o acaso, o imprevisto são temas que me apaixonam demais."
Sobre a beleza:
"Eu era jovem, bonita e eu queria ser mais inteligente. Eu era bonitinha e tal, então eu queria que me respeitassem e não respeitavam, porque vinham com o negócio de beleza, eu ficava uma fúria. Eu dizia: eu estou escrevendo tão bem e vocês não estão falando no meu texto, estão falando na minha cara. Eu me sentia infeliz e me sentia muto perseguida."
Relação com os personagens:
"A personagem, como nós mesmos, cria força, vida própria. Ela monta no cavalo e quer tomar sua direção. E é bonito isso."
Sobre o escritor Mario Vargas Llosa:
"Lindíssimo!"
Sobre Clarice Lispector:
"Ela dizia, às vezes eu digo para mim mesma: 'Oh, Lygia, desanuvia a testa e põe um vestido branco'"
Sobre Caio Fernando Abreu:
"Meu querido amigo."
Sobre Jorge Luis Borges:
"Ele me conhecia pela voz."
Sobre Paulo Coelho:
"Sorte a dele, ele apertou o botão certo. Não interessa a minha opinião sobre ele."
Sobre literatura feminina:
"Eu não faço distinção hoje de literatura feminina e literatura masculina. Eu não faço esse divisor de água. A divisão de águas está em relação à qualidade. Há escritores que escrevem bem e escritoras que escrevem bem. Escritores que escrevem mal e escritoras que escrevem mal."
"A literatura escrita pela mulher tem certas características dentro da nossa condição mesmo, há um subjetivismo talvez maior. Eu vejo nesses diários de capas acetinadas com pombinhas, coraçõezinhos pintados, eu vejo o início desta literatura intimista, subjetiva. Seria a fonte primária das mulheres tentando se dizer, tentando se explicar, tentando desembrulhar. A mulher é mais embrulhada do que o homem, porque ela foi obrigada a ser mais embrulhada. Aqui no Brasil, a mulher calada, ela sai e vai para a cozinha fazer goiabada. Tanto é que eu chamo, sem ironia, mulher-goiabada. Mamãe quis ser cantora, tinha uma voz linda, mas o pai achava que aquilo não era uma condição de uma moça fina da alta sociedade, então ela casou-se, mas ela foi frustrada na sua primeira vocação e foi fazer doces de goiaba."
Sobre ser escritor no Brasil:
"O escritor no Brasil fica bom depois da morte. É a necrofilia: é a vontade de exaltar um morto, porque o morto não está mais competindo acho que é isso."
"Eu sou uma senhora procuradora do Estado aposentada." (respondendo à pergunta se ela sobrevivia de literatura)
Um último recado
"O dia em que o sonho nos abandonar, nós estaremos tão tristes, vivos, mas tão tristes como se tivessemos morrido."
Quem quiser assistir ao programa na íntegra, clique aqui.
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