Frase de Karen Blixen sobre o encanto de escrever uma história
Entre 1912 e 1932, a escritora Karen Blixen (ou Isak Dinesen, se preferir o pseudônimo) deixou seu país, a Dinamarca, para administrar uma fazenda de café no Quênia com o marido. Só que o homem era um mulherengo e, logo, eles se separaram. Resultado: Blixen cuidou de tudo aquilo sozinha, além de ter se tornado a curandeira, defensora e porta-voz dos nativos. Sério, a mulher era um fenômeno!
Anos mais tarde, quando já havia voltado definitivamente para o Velho Mundo, ela publicou um livro, A Fazenda Africana, no qual contava suas experiências, descobertas e reflexões sobre a diferença comportamental/cultural entre europeus e africanos.
Espero que você leia a obra completa, mas separei um trecho emocionante em que a autora relata o deslumbre de um dos seus funcionários ao descobrir o poder da escrita. Esse homem, Jogona, estava envolvido em um julgamento, e Blixen tomou nota do testemunho. Ele ficou tão maravilhado com o fato de que sua história fora capturada numa folha de papel, que a guardou pro resto da vida dentro de um saquinho, com o qual passou a andar. Vez ou outra, ele pedia que a escritora lesse de novo o conteúdo dessa folha, olha que lindo:
"E a cada vez que eu lia, seu rosto assumia a mesma expressão de um profundo triunfo religioso, e depois ele alisava meticulosamente o papel antes de dobrá-lo e devolvê-lo ao saquinho. Em vez de diminuir, a importância do relato só aumentava com o tempo, como se o mais incrível para Jogona fosse o fato de ele nunca se alterar. O passado, que tanto lhe custara para recuperar, e que antes provavelmente lhe parecia mudar toda vez que nele pensava, agora havia sido capturado, conquistado e ficado para sempre diante de seus olhos. Ele havia se tornado história: agora não sofria mais variações, nem era obscurecido pela sombra das mudanças."
Livros relacionados
Posts relacionados
A (não) interpretação de textos literários, por Flannery O'Connor
Deixe um comentário:
Nenhum comentário. Seja o primeiro!