Fatos aleatórios, resenhas despretensiosas, curiosidades gostosas, detalhes escondidos e histórias esquecidas sobre o mundo dos livros (e de seus autores)
Tenho uma desculpa para postar uma história de de julho passado: ela é fofa e junta livros com criança.
Num belo dia de trabalho, um carteiro de Utah, Estados Unidos, encontrou um garotinho fuçando na caixa de correspondência atrás de jornais antigos e anúncios descartados. Não importava o conteúdo... Matthew Flores só queria ler alguma coisa. 'Te deixa mais inteligente', justificou o menino de doze anos a Ron Lynch.
Depois de um bate-papo, o carteiro descobriu que a família do pequeno leitor não tinha muitas condições de comprar livros e que a grana era curta até para pagar a passagem do ônibus que levava até a biblioteca da cidade.
Impressionado, o carteiro fez uma campanha pedindo aos seus amigos do Facebook doação de livros. O resultado foi uma avalanche de mais de 300 livros na porta da casa de Flores, que, na ocasião, prometeu ler todos eles.
Estou chegando à conclusão que nunca saberemos ao certo quais são os livros mais vendidos da história, as obras mais lidas do universo, nem qualquer coisa do tipo. A cada nova pesquisa que sai, um novo ângulo, logo um novo resultado. Por isso, achei esse infográfico divulgado no site gringo Eletric Literature muito interessante
Ele mostra o título do livro, o ano em que foi escrito e as quantidades de traduções, edições e cópias vendidas. E aí as possibilidades são muitas: se você focar na quantidade de traduções, está pensando no alcance e universalidade da história, no quanto ela se espalhou pelo globo terrestre. Por exemplo, O Sonho da Câmara Vermelho vendeu mais que O Código da Vinci, mas só circulou na China. Dá para dizer que essa obra é mais pop do que a de Dan Brown? Ao mesmo tempo, os números de cópias vendidas podem não ser fiéis, pois não garantem que o leitor de fato leu seu exemplar. Outro enfoque legal é comparar os dados com a data de publicação do livro: em dez anos a trilogia Millenium está chegando ao patamar de vendas de As Aventuras de Sherlock Holmes, que é do fim do século XIX.
Enfim, olhem e divirtam-se. Quanto mais o desenho estiver completo, maior a popularidade da obra.
Eu apenas traduzi o infográfico, então vão ver que ele não ficou muito visualmente bonito. Ah, e tambêm perceberão que a literatura latino-americana foi praticamente ignorada.
Não é raro encontrar Esperando Godot, de Samuel Beckett, em alguma lista de maiores clássicos de todos os tempos (como essa aqui). No entanto, quando estreou, em 1952, essa peça foi mal recebida - muitas vezes, o público ia deixando o teatro antes mesmo do fim. Também, pudera... Beckett - na época sem um Nobel de Literatura para ostentar - estava ali rompendo com a estrutura narrativa do teatro. Em vez de uma história com um conflito que caminha para a sua resolução, o que temos são dois caras, Vladimir e Estragon, aguardando um tal de Godot.
Não acho que Beckett seja um grande frasista em suas peças, mas, ainda assim, separei dois trechos muito bonitos:
"As lágrimas do mundo são em quantidade constante. Para cada um que irrompe em choro, em outra parte alguém para. Com o riso é a mesma coisa. Não falemos mal, então, dos nossos dias, não são melhores nem piores dos que os que vieram antes. Não falemos bem, tampouco. Não falemos. Verdade que a população não aumentou."
"- Ajudou a passar o tempo.
- Teria passado igual.
- É. Mas menos depressa."
Vamos falar de coisa fofa? Sidney Gusman, editor da Mauricio de Sousa Produções, divulgou na última quarta-feira (20/7) no seu perfil no Facebook imagens do próximo número de Graphic MSP, uma coleção de releituras dos personagens mais queridos do Brasil em formato de graphic novel que já está indo para seu 12º volume.
Trata-se de Mônica - Força, cuja autoria ficou sob a responsabilidade da artista Bianca Pinheiro. "Do alto de seus sete anos, a Mônica enfrentará o maior desafio de sua vida. E não poderá ser na base da coelhada! Força vai mexer com as memórias e emoções da dentucinha e dos leitores", escreveu Guzman.
Agora vamos ao que interessa, a capa e alguns dos trechos divulgados pelo editor. Se ficar curioso, anote aí que o livro sai em agosto.
Todas as edições da coleção Graphic MSP
Quem está a fim de conferir as edições anteriores desse projeto pode seguir essa listinha:
Astronauta - Magnetar, por Danilo Beyruth e Cris Peter Astronauta - Singularidade, por Danilo Beyruth e Cris Peter Turma da Mônica - Laços, por Lu Cafaggi e Vitor Cafaggi Turma da Mônica - Lições, por Lu Cafaggi e Vitor Cafaggi Chico Bento - Pavor Espaciar, por Gustavo Duarte Piteco - Ingá, por Shiko Bidu - Caminhos, por Eduardo Damasceno e Luis Felipe Garrocho Penadinho - Vida, por Paulo Crumbim e Cristina Eiko Turma da Mata - Muralha, por Artur Fujita, Davi Calil e Roger Cruz Louco - Fuga, por Rogério Coelho Papa-Capim - Noite Branca, por Marcela Godoy e Renato Guedes
Acho que só fui entender toda a comoção gerada pelo fim da Cosac Naify no meio deste ano, quando tive uma aula com a antiga produtora gráfica da editora Aline Valli.
Para começar do começo, preciso explicar que, basicamente, a geração do livro dentro de uma editora passa por duas etapas: a edição (que tem a ver com o conteúdo, ou seja, texto, tradução, revisão, etc) e a produção gráfica (ligada à forma, englobando escolha do papel, capa, fonte, diagramação, etc, etc). No geral, a fase da edição tem um peso maior, o que não acontecia na Cosac, onde a forma era tão bem cuidada quanto o conteúdo. O resultado eram aqueles livros lindos e praticamente artesanais.
No curso que fiz, descobri alguns segredinhos e curiosidades de produção dos livros que me deixaram embasbacada. Aposto que vão deixar você também:
Bartleby, o Escrivão, de Herman Melville
Talvez esse seja o livro mais conceitual da Cosac. O personagem principal é um cara postergador e indeciso. Por isso os produtores resolveram colocar um aviso de 'Acho melhor não comprar esse livro' bem na embalagem. A ousadia não parou aí. Para abrir o exemplar, era preciso puxar uma linha vermelha que costurava a capa da frente e a de trás (capa e quarta capa, como a Bonie me ensinou). A seguir, as páginas vinham grudadas, forçando o leitor a rasgá-las com régua, uma a uma. É melhor ver com os próprios olhos:
Depois que o livro foi publicado, começou-se a perceber que os exemplares mofavam, porque o contato da capa (que era feita de algo parecido com um tecido encorpado) com a folha de rosto provocava uma reação que gerava umidade. A solução foi, a partir daí, incluir uma folha plástica entre as duas para evitar esse encontro fatal.
Ficou curioso? Meus pêsames, porque não encontrei o livro de Melville para vender nem no site Estante Virtual.
Segunda edição dos livros de Samuel Beckett
A príncipio, a Cosac lançou Esperando Godot, Fim de Partida e Dias Felizes como parte integrante daquela coleção Prosa do Mundo. Depois eles reeditaram Godot e publicaram também os romances Murphy e Textos Para Nada com essa capa em preto e branco. Olhem bem e tentem matar a charada...
Se você inclinar a cabeça para a direita, dá para desvendar a palavra Beckett! (gente, eu tinha a edição de Esperando Godot e nunca tinha percebido).
Tem mais um detalhe, preparado? A bordinha das folhas são listradas, como vocês verão na próxima foto. Para conseguir esse efeito, a própria produtora fazia pilhas de livros e colocava durex de diferentes larguras antes de tingir apenas as bordas de preto, quando retirava o adesivo, tcharam.... Tudo isso feito a mão, claro.
Uma pilha nunca saía igual à outra.
Coleção portátil
E então decidiram fazer uma edição mais barata com as obras da Cosac. O desafio era conseguir livros bonitos e estilosos, mas com baixo custo. Como? Simples, primeiro precisavam economizar na capa. Eles pegaram um papel do tamanho de uma cartolina e fizeram aquele logo famoso da Cosac, só que em cores bem fortes.
Todas, eu disse todas capas dessa coleção são variações no recorte desse mesmo desenho! Para aproveitar bem cada 'cartolina', era preciso imprimir duas obras diferentes por vez, mas, para isso, elas tinham que ter a mesma quantidade de páginas. Como conseguir isso? Mudando a disposição do texto nas páginas internas.
À medida que novas edições eram impressas, mudavam a combinação de cores do logo. Ou seja, é possível que a minha edição de O Amante não tenha as mesmas cores do que a sua.
Para fazer um charminho, eles costuraram os cadernos com linhas coloridas, afinal, uma linha branca custa o mesmo que uma laranja.
Seção, de Marcius Galan
Esta obra de um artista plástico formada por três volumes foi embalada a vácuo, milimetricamente pensada para que as laterais formassem um desenho no logo.
Viu por que o fim da Cosac Naify foi algo tão doloroso? Para fechar a seção nostalgia, vou incluir o vídeo curisosíssimo de uma entrevista que Charles Cosac deu para a Revista Piauí durante o processo de encerramento das atividades da editora. Acho que, com ele, dá para entender um pouco quem é o idealizador dessa empresa tão peculiar.
Recomendo também que acesse os posts relacionados, onde mostro por dentro das edições do lindo Mary Poppins, dos Contos do Irmão Grimm e da Antologia da Literatura Fantástica.
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