A Tetralogia Napolitana, da "escritora italiana" Elena Ferrante, é uma coleção formada pelos livros A Amiga Genial, História do Novo Sobrenome, História de Quem Foge e Quem Fica e História da Menina Perdida (este último ainda não foi lançado no Brasil). Baixei o primeiro volume por insistência da minha amiga Cláu (do canal Tô Lendo) e, desde então, não trabalho, não raciocino, mal respiro: só quero saber dessa trama.
Exageros à parte, fiz um post para tentar entender por que essa série é tão fenomenal:
1. Porque vicia
O prólogo de A Amiga Genial já é uma provocação. Lenu descobre que sua melhor amiga desapareceu, o que não a surpreende, afinal Lila sempre dizia que sumiria sem deixar rastros. Restando pouco a se fazer, Lenu encontra uma forma de expressar toda a sua contrariedade: recontar a história de Lila, deixar seus rastros gravados para sempre. A partir daí, o leitor é jogado para a infância das duas moradoras de um bairro pobre de Nápoles. Confesso que li os primeiros 20% do meu e-book gostando, mas em uma velocidade normal. Só que passou disso e aí eu não conseguia mais me desprender daquelas memórias nada inocentes de gente que tinha que endurecer para sobreviver numa realidade sangrenta, rodeada por mafiosos, analfabetos e muita violência doméstica.
O livro vai que vai e termina de uma forma tão misteriosa, que me forçou a fechá-lo e correr para baixar a continuação.
2. Porque a personagem principal só se ferra
Depois de A Amiga Genial, trucidei História do Novo Sobrenome, que conta o início da vida adulta das jovens. Apesar da miséria, uma boa professora conseguiu convencer os pais de Lenu de que ela precisava continuar estudando. Por isso, sua vida começa a se destoar da dos vizinhos, inclusive da de Lila, que sempre foi a mais talentosa da dupla. O fantasma dessa amiga muito mais genial, esperta e bonita assombra Lenu, que fica com a impressão de que tudo o que lhe resta é o segundo lugar. E, no fundo, acho que essa é a chave do livro. Com quem você se identifica mais: com as personagens perfeitas ou com aquelas de verdade, que se esforçam o máximo e não chegam lá? Bom, eu sou mais as do segundo tipo, por isso, virei eterna torcedora do time Lenu.
3. Porque estimula paixões
Só sei que, num determinado momento do segundo volume, a rixa Lenu x Lila me pegou tão forte, que eu comecei a sentir um ódio físico. Não estou falando que é superlegal ficar passando raiva à toa, mas acho demais quando uma história fictícia te envolve até a esse ponto.
4. Porque você vai achar que conhece as personagens
Eu estou falando de Lila e Lenu, mas aquele monte de vizinho que circunda as garotas também é essencial. É tanta gente secundária, mas atuante, que os dois volumes que li começam com um mapa de personagens que, a princípio, parece intransponível, mas depois a gente se acostuma. E como... Se você já leu, te pergunto: como não amar a louca Melina e o esforçado Antonio? Agarrei uma afeição até nos mais ruins.
5. Porque cada hora você acha que o livro fala de uma coisa
Acho que justamente essa diversidade de personagens permite uma variação muito grande de assuntos e de reviravoltas. Se eu tivesse escrito esse post enquanto estava lendo A Amiga Genial, teria dito que o principal assunto era a influência que as pessoas à nossa volta exercem na nossa vida. Já no final do primeiro volume, comecei a achar que o conflito social era o xis da questão. Já com a o segundo livro ora achava que ele falava sobre repressão da mulher, ora pensava que era uma história de amor. Ou seja, com tédio é que eu não fiquei.
6. Porque é legal morrer de ansiedade enquanto se espera o próximo volume ser lançado
Pois bem, História do Novo Sobrenome também tem um final catártico, só que o próximo livro da série chegou apenas na semana passada às livrarias. Pior pra mim, pois estou lendo em e-book e este ainda não está disponível (a editora Biblioteca Azul prometeu pra esta semana). Já a conclusão, História da Menina Perdida, tem previsão de lançamento para o primeiro semestre do próximo ano! Sério, me sinto novamente na época em que lia Harry Potter e tinha que esperar anos para poder ler uma continuação.
7. Porque o povo diz que é bom
Se você ainda não ouviu falar da tetralogia napolitana, se prepara. No Brasil, a popularidade ainda é tímida. Apesar de História do Novo Sobrenome ter vendido 40 mil exemplares por aqui, nenhum título da coleção está no ranking dos vinte mais vendidos do país (olhei no site PublishNews). Já na gringa o fenômeno é maior: foram dois milhões de cópias compradas.
8. Porque a crítica diz que é bom
Best-sellers não costumam agradar à crítica, certo? Não é o caso de Elena Ferrante. Em maio deste ano, o quarto livro da coleção foi finalista do Man Booker Prize, um dos mais importantes prêmio literários. No final, quem levou foi a sul-coreana Hang Kang (com A Vegetariana), mas é uma indicação que cai bem para os leitores mais exigentes.
9. Porque ninguém sabe quem é Elena Ferrante
Elena Ferrante é o pseudônimo de uma escritora ou escritor misterioso que já escreve desde o começo dos anos 1990. Ela/ele até dá entrevista, mas sempre por e-mail e justificando que, depois de concluída, a obra não tem mais nenhuma necessidade de seu autor. Tudo funcionou até o início de outubro, quando um jornalista fez uma investigação insana com as movimentação financeiras da editora italiana da tetralogia e descobriu que quem recebe os direitos autorais pelo livro é a tradutora Anita Raja. Uma curiosidade: apesar de ser made in Italy, essa mulher jamais viveu em um bairro pobre napolitano.
Deixe um comentário:
Nenhum comentário. Seja o primeiro!