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A gente lê: Junky

Nunca tinha visto um exemplar de Junky, de William S. Burroughs, nem pela internet, até que encontrei essa edição coloridíssima no estande da Companhia das Letras na Bienal. Foi o primeiro livro que comprei no evento este ano.

junky.gifComo já conhecia um pouquinho o autor (li E os Hipopótamos Foram Cozidos em Seus Tanques), já tinha uma base do que poderia esperar: uma autobiografia acelerada sobre um cotidiano louco. E assim foi.

Em Junky, Burroughs, talvez o mais junky dos escritores beatniks, conta como se viciou em junk - drogas pesadas. Incomodou-se com a quantidade de vezes que a palavra 'junky' apareceu no meu texto? Vá se acostumando, pois Junky, o livro, é isso mesmo.

O começo da obra é também (para mim) o auge. Narrando sua perturbada infância, o autor solta pérolas como:

"Junto da outras crianças eu ficava tímido, com medo de violências físicas. Tinha uma lésbica mirim muito agressiva que puxava meu cabelo tão logo me via. Eu bem que gostaria de soltar a cara dela nesse mesmo instante, mas, anos atrás, ela caiu do cavalo e quebrou o pescoço".
O trecho sobre a juventude é também rápido e brilhante, com leves menções sobre a homossexualidade e o período em que Burroughs passou numa clínica psiquiátrica.
"Certa vez, entrei numas de Van Gogh e cortei um pedaço do dedo para impressionar uma pessoa em quem eu estava interessado na ocasião. Os médicos do hospício nunca tinham ouvido falar de Van Gogh. Me engaiolaram como esquizofrênico, acrescentando um diagnóstico de 'tipo paranoide', para justificar o fato de eu saber onde estava e quem era o presidente da República"

Essas passagens não dão conta nem da metade das curiosidades que cercam a vida desse ícone (algumas já contei em outro post), pois o enfoque mesmo será a partir do dia em que ele se aplica uma seringueta de morfina.

No resto do livro, o autor revela suas doses, a evolução do vício e o que é ser um viciado. No fim, entendi que junky não é um estilo de vida como é repetido de maneira tão glamourizada por aí. Junky é uma consequência de um estado físico que determinará todas as ações daquela pessoa. É viver em função de satisfazer uma necessidade química.

Apesar de ter achado o livro meio cansativo e circular, trata-se de um relato honesto que acaba gerando empatia. 

Leia mais sobre Burroughs:
Cinco fatos que vão atiçar sua curiosidade sobre William Burroughs 

Leia mais sobre os beats:
A gente lê: Os Beats 

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A gente lê: Ele está de volta

O livro da vez é Ele está de volta, de Timur Vermes.

Meu Deus! Apologia a Hitler? Estamos lendo um livro nazista, que está defendendo os ideais arianos? Claro que não. Confesso que tenho curiosidade para ler sobre o que Hitler escrevia (sério mesmo, quem em sã consciência defenderia um massacre daqueles?), mas esse não é o caso.

Ele está mais para sátira, tentando imaginar como seria se ele simplesmente aparecesse hoje em dia. Como seria se aparecesse um pessoa com bigodinho central, cabelinho lambido e com aquela cara de bravo? Alguém muito tolerante poderia até levar ele a tomar uma no bar (embora ele não seja muito interessado em álcool). Alguém mais esperto levaria ele pra TV, e tiraria uma grana.

Em resumo o livro é isso. Um cara defendendo arduamente o nazismo, e as pessoas sem levar a sério. Nem mesmo os neonazistas acreditam nele. Mas o livro não é só isso. O Hitler, antes de tudo, também é uma pessoa, e é mostrado ele como alguém simpático com algumas pessoas próximas (não é só aquele homenzinho enfezado gritando e xingando), além de referências dele contando de si próprio no passado.

Gostei bastante, e recomendo para quem quer ter uma leitura divertida sobre ele, o que convenhamos, é uma tarefa difícil.

Estava passeando por uns sites e reviews, e tem pessoas arduamente defendendo o contrário. Que não deveria haver brincadeiras desse tipo em relação a um massacre desse tamanho. Se você for esse tipo de pessoa, não preciso nem contra indicar essa leitura. Mas sinceramente, não é nada demais. Como já falei, não é apologia, mas uma sátira.

Por fim, meio gratuito, mas achei muito boa para aqueles que não acreditam em reencarnação.

gato-hitler.jpg
Fonte da imagem: http://9gag.com/gag/aNoB0v6

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Ele está de volta

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Kindle Unlimited, ou o "Netflix" pra livros, chegou no Brasil

Chegou o Kindle Unlimited no Brasil! :)

Tá bom. Mas o que é isso? Vou falar de um jeito mais conhecido.

Chegou o "Netflix para livros" no Brasil :)

Para quem não conhece o Netflix, é um serviço que assistimos filmes pela internet, mas ao invés de pagarmos pelo filme (como é tradicional nas locadoras), você paga uma taxa mensal. Você pode assistir 100 filmes no mês, que é o mesmo preço.

Nesse caso, é para livros. Você pode acessar um monte de livros da Amazon pagando apenas R$19,90 por mês.

Mas será que vale a pena?

Provavelmente sim, mas vai depender do quanto você lê por mês.

Vamos supôr que você queira ler o Harry Potter (R$18,73 na Amazon). Você vai precisar ler mais alguma coisa para não tomar um prejuízo.
Mas se quiser ler Jogos Vorazes (R$24,22) já saiu no lucro.

Se interessou? Acesse o Kindle Unlimited para contratar esse plano, e conte ainda com 30 dias de graça para testar.

Eu, particularmente, gostei bastante. Ainda tenho alguns livros na fila, então vou esperar um pouco. Só acho que isso poderia ser mais barato, pois o Netflix é R$17,90, e me parece ser mais caro a transferência de filmes do que de livros. Mas de qualquer forma, ambos são proveitosos.

Leia mais

Quer emprestar ou presentear pelo Kindle? Migre sua conta para Amazon.com 

Devo registrar meu Kindle na Amazon.com.br ou na Amazon.com? 

Agora você pode comprar Kindle na Amazon.com.br 

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Assista ao trailer de O Pequeno Príncipe, uma animação baseada no clássico francês <3

Nem O Hobbitt, nem Jogos Vorazes. Para mim, a adaptação mais esperada de 2015 será O Pequeno Príncipe (pausa para corações <3 <3 <3 ).

Isso mesmo! A obra de Antoine Saint-Exupéry inspirou uma animação de Mark Osborne (direitor de Kung Fu Panda), que será lançada na gringa em outubro de 2015 (pausa para carinhas decepcionadas :/ :/ :/ ).

Por enquanto, podemos nos contentar com este emocionante primeiro  trailer liberado pela Paramount Pictures na última segunda-feira.

Ainda não dá para perceber pelos trechos divulgados, mas atores de renome foram chamados para fazer a dublagem. Tem James Franco como a raposa, Benicio del Toro de cobra e Marion Cotillard como, claro, a flor. Ah, e quem está cantando 'Somewhere Only We Knows', do Keane, é Lily Allen.

Pelo que captei trailer, o filme não vai recontar a história original, mas, sim, mostrar uma criança contemporânea tendo contato pela primeira vez com o clássico. Então se você quiser assistir a uma adaptação bem fiel, lembro que existe o musical de 1974, dirigido por Stanley Donen.

Vou finalizar este post com a parte mais triste do filme antigo. Preparem os lencinhos:


Leia mais sobre o Petit no Shereland:
O Pequeno Príncipe inspira parque temático na França (suspiros...) 
Os 10 casais mais apaixonantes da literatura 


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O Pequeno Príncipe - Nova tradução por Ferreira Gullar

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Dicas de escrita, por Gay Talese

talese.jpg

No último post, falei sobre Vida de Escritor, de Gay Talese 

Bom, Gay Talese escreveu para publicações americanas de renome como a Times e a Esquire e acabou se destacando no jornalismo literário, um estilo inovador de fazer reportagem que surgiu na década de 1960. O autor se intitula um "escritor-jornalista", ou seja, ele se apropria do modo de narrar dos literatos para contar os fatos que apurou.

Em Vida de Escritor, Talese solta várias dicas sobre seu método para criar textos. Fiz um apanhado delas que vão interessar você que gosta de botar o lápis para trabalhar de vez em quando: 

- Divida seu tempo entre hora da criação e hora da revisão

Gay Talese é disciplinado e divide sua jornada de trabalho em dois períodos de quatro horas: a manhã ele usa para criar, depois faz uma pausa (também de quatro horas) e, à noitinha, revisa minuciosamente o que produziu naquele dia. vida-de-escritor.jpg

- Confinamento para evitar enrolação

"Quando, no trabalho de um escritor, ocorre um bloqueio de criação, esse escritor pode ser muito criativo para encontrar formas de fugir do trabalho", diz Talese. Por isso, no momento de escrever, o jornalista deixa ao seu alcance tudo o que precisa (inclusive "uma bandeja de muffins e uma garrafa de café quente") para não ter que ficar fazendo pausas.

- Pode ficar melhor

Nada de jorros à Kerouac. Talese para a cada frase formada e tenta melhorá-la ao máximo, invertendo e substituindo as palavras "até eu julgar que tinha acabado uma oração ou que ela acabou comigo", brinca.

O texto é escrito a mão e em letras de forma em um bloco amarelo e, depois de completar três ou quatro páginas, o autor transcreve o conteúdo para o computador, fazendo uma nova revisão.

- Pesquise, pesquise e, quando cansar, pesquise mais um pouco

Talese defende que um livro começa a ser bolado em bibliotecas, arquivos e entrevistas com pessoas envolvidas no assunto. "Das informações que recolho das pessoas, 80% terminam na cesta de lixo. Ainda assim, eu não teria conseguido descobrir os 20% úteis sem abrir caminho através dos 80%, que acabam virando lixo", calcula.

- Entrevistas devem ser feitas ao vivo

Vai fazer uma biografia ou um livro-reportagem? Então esqueça o telefone ou e-mail! Talese acha importante ficar de cara com seus entrevistados para captar "sensações visuais e descrever a atmosfera do ambiente do encontro". Ah, jamais interrompa suas fontes "pois nesses momentos hesitantes e confusos as pessoas quase sempre são muito reveladoras", explica.

- Dedique-se a mais de um projeto ao mesmo tempo

Quando der aquela enroscada para trocar de um parágrafo para outro, não hesite: pule para outra história. Sim, Talese mantinha pastas onde arquivava seus inúmeros projetos inacabados e, assim, transitava entre um e outro ao longo dos anos.

Vai mesmo continuar escrevendo? Então fique com essa reflexão final

"por que não estou escrevendo este livro mais depressa? Estarei sofrendo de 'bloqueio de escritor'? Não, você não está sofrendo 'bloqueio de escritor', está apenas mostrando bom senso ao não publicar nada por enquanto. Você está mostrando consideração para com os leitores ao não lhes dar texto ruim. Muitos escritores deviam fazer o que você está fazendo - não escrever. Já existe muito texto ruim por aí, para que mais?" 
Leia mais:
A gente lê: Vida de Escritor 
Cinco coisas que você deve saber antes de publicar seu livro
 

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