A gente lê: História do Olho
Do céu ao inferno: saí da leitura de Mary Poppins diretamente para História do Olho, do francês Georges Bataille que costuma ser caracterizado como um escritor de literatura erótica.
Antes que você comece a esboçar um sorrisinho, juro que cheguei a esse livro como uma indicação do curso Os Mitos da Narrativa, ministrado pela editora Vanessa Ferrari.
A adaptação de Minha Mãe
A verdade é que eu já tinha entrado em contato com o autor por intermédio do filme Minha Mãe (o primeiro longa do diretor Christophe Honoré) que é uma adaptação do livro homônimo de Bataille.
Acontece que eu assisti ao filme pela primeira vez e achei, bem... esquisito. Desde então, devo ter visto mais duas vezes, não porque eu goste da obra, mas para tentar entendê-la. Gente, chega uma partezinha ali quase no final que eu não pego.
E aí, na época, eu pensava que era uma falha da adaptação, que no momento de ter se transformado em filme algo tinha se perdido. Mas agora que de fato li Bataille começo a achar que o autor é um pouco hermético. E, sim, bemmmmm pesado. Mas pesado de verdade.
A história de História do Olho
Georges Bataille tinha um pai cego e paralítico. Durante parte da infância, viu muitas vezes esse homem sujo, fazendo suas necessidades fisiológicas por onde estivesse. Uma imagem que marcou o escritor foi que, enquanto fazia xixi, o pai revirava os olhos, deixando um globo branco à mostra.
Anos depois, em 1928, o analista de Bataille sugere que ele escreva livremente, como se a escrita fosse uma forma para que ele expiasse seus traumas. E aí sobre o que ele fala? Sobre o olho, sobre o xixi, sobre o fedor do pai...Tudo isso acrescido à sacanagem. Tipo um Complexo de Édipo escatológico.
Resumindo de forma a evitar meu constrangimento. Dois adolescentes numa praia idílica começam a ter experiências bem livres. Nas palavras do próprio narrador:
"Eu não gostava daquilo a que se chama 'os prazeres da carne', justamente por serem insossos. Gostava de tudo o que era tido por 'sujo'."
E o olho? Bom, o olho aparece na narrativa por diversas formas: ora como um brinquedo, ora como comida, ora como objeto de desejo. Seria esse o olho da consciência? Talvez.
E aí as coisas vão rolando até que, nos últimos três capítulos o próprio Bataille, aí já como ele mesmo, aparece para explicar a ficção.
Ele revela suas loucuras, fala do analista e até conta que uma de suas referências para escrever o livro é o filme O Cão de Andaluzia, de Luis Buñuel e Salvador Dalí (que já apareceu neste blog aqui ). E aí tudo fez sentido, minha gente: o livro é surrealista! Por isso a inverossimilhança, a sensação de tudo se passar em um sonho e as imagens tão fortes.
Eu não sei. Foi um livro bem diferente de tudo o que eu conhecia, creio que não gostei, mas gostei de ter lido. Quer arriscar? O estômago tem que estar firme e o moralismo de férias.
Ah, o livro está bem esgotado e não tem versão em e-book. O mais fácil é procurar em sebos.
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