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A gente lê: O Outro Pé da Sereia

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Escrito em 2006, O Outro Pé da Sereia é o nono (segundo o Wikipedia) romance lançado pelo escritor moçambicano Mia Couto.

Foi tudo inédito para mim: ler Mia Couto, ler em português de Moçambique (a edição da Companhia das Letras optou por manter a grafia original) e ler ficção africana. E a experiência foi fantástica.

Por isso fica bem difícil pensar por onde partir.

Está bem... Comecemos pelo começo, quando o burriqueiro Zero Madzero encontra uma santa de uma perna só e o adivinho das redondezas lhe aconselha a guardá-la num lugar sagrado. Mas o cara vive numa aldeia erma, então cabe à sua esposa, Mwadia, levar a santa para a igreja do vilarejo onde o casal nasceu e cresceu antes de optar pelo isolamento.

Se até então estava na cara que a história era sobre Zero, é nesse trecho que nos é revelado que Mwadia é a protagonista e que a trama principal será justamente este retorno à casa.

Só que, em paralelo, o enredo volta para o ano de 1560. Acompanhamos um barco que levava missionários portugueses para catequizar os recém-descobertos moçambicanos. Adivinhem só quem era a padroeira desta embarcação? A santa, que, na época, ainda não tinha sido amputada.

E aí Mia vai intercalando capítulos com a história antiga e a contemporânea para mostrar como uma é consequência da outra.

Mas resumir a obra assim como fiz é simplificar demasiadamente. Porque a real é que o livro é sobre tudo: intervenção cultural e raízes, passado e superação (ou não), escravidão física e escravidão mental. Aborda ainda conflitos familiares, machismo, racismo, saudade e, sobretudo, a aceitação do fim. Falando em fim... O final do livro, minha gente!!!!!! Melhor ficar por aqui, e vocês, por favor, leiam!

Meu longo caminho até O Outro Pé da Sereia

A primeira vez que ouvi falar do título foi pelo canal literário Tiny Little Things , com Tati Feltrin dizendo que esse "é um livro triste". Não lembro em qual vídeo ela afirmou isso, mas neste link tem um vídeo-resenha só sobre a obra . 

Depois disso, comecei a ver Mia Couto em todos os lugares: nas prateleiras das livrarias, na Bienal do Livro de Brasília, no blog o batom de Clarice . E aí que justamente quando encomendei o livro pela internet, presenciei um grupo oposto acusando o autor de ser rebuscado, complicado e imitador de Guimarães Rosa.

Se você conhece o escritor, estou louca para saber se você ama ou odeia Mia. Pelo meu post, fica fácil de perceber que eu, apesar de novata, estou no time dele, não é?

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A gente lê: Um Coração Ardente

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Trata-se de uma reunião de dez contos de Lygia Fagundes Telles escritos entre 1950 a 1980. Eles estavam espalhados por aí até que a Companhia das Letras - que vem reeditando lindamente a obra da autora - agrupou-os em Um Coração Ardente em 2012.

O livro é tão lindo que me empolguei e decidi fazer algo diferente de uma resenha. Resumo cada conto em uma frase e uma citação.

Um Coração Ardente
Um homem mais velho recorda o primeiro amor por uma prostituta.

"Eu não tinha talento nem para a literatura e nem para a filosofia, nenhuma vocação para aqueles ofícios que me fascinavam, essa é a verdade, tinha um coração ardente, eis aí, tinha apenas um coração ardente."
Dezembro No Bairro
Um grupo de crianças faz de tudo para montar um presépio bacana.
"Sabíamos que eles eram pobres, mas assim desse jeito?"
O Dedo
Caminhando numa praia, a narradora encontra um dedo com um anel de esmeraldas enterrado na areia e especula sobre como ele foi parar ali.
"Podia ser ainda uma suicida, dessas que entram de roupa pelo mar adentro, o desespero é impaciente, ela mal teve tempo de encher os bolsos com pedras."
Biruta
Um garotinho órfão tem um cachorrinho arteiro, mas a família rica para quem ele trabalha está querendo dar um fim no bichinho.
"Muito tempo ele ficou ali ajoelhado, segurando a bola. Depois apertou-a fortemente contra o coração."
Emanuel
Uma moça quarentona e virgem resolve inventar para os amigos que arrumou um namorado, mas ninguém acredita nela.
"'A esperança é curva assim como uma asa', disse alguém. Melhor me deitar na planície mas quando dou acordo de mim já estou subindo a montanha, resfolegando e subindo."
As Cartas
Uma antiga colega de infância da narradora morre e deixa as cartas que havia trocado com o amante.
"agora eram as cartas que contraindo-se com estalidos secos pareciam rir"
O Noivo
Um homem é acordado de manhã às pressas para se vestir para o próprio casamento, só que não sabe quem é a noiva.
"- Até que ponto me comprometi?, repetiu a si mesmo sacudindo a cabeça que já começava a doer."
A Estrela Branca
Um cego é convidado para ser cobaia numa operação inédita que pode lhe trazer a visão novamente.
"Ergui a face para o céu, ergui a face mas os olhos... os olhos não obedeciam"
O Encontro
Em uma caminhada, uma mulher consegue prever com antecedência tudo o que vai acontecer.
"Nunca criatura alguma me pareceu tão desesperada, tão tranquilamente desesperada, se é que cabe tranquilidade no desespero"
As Cerejas
Uma menina vive no sítio com as tias e recebe visitas inesperados de parentes da cidade.
"Marcelo, Marcelo! chamei. E só meu coração ouviu." 

Meu projeto Lygia Fagundes Telles

Desde 2010, venho lendo a bibliografia da autora, seguindo a edição da Companhia das Letras. Atualmente, minha meta é ler um livro a cada semestre. 

Ciranda de Pedra -1954
Verão no Aquário - 1963

Antes do Baile Verde - 1970

As Meninas - 1973

Seminário dos Ratos - 1977

A Disciplina do Amor - 1980
As Horas Nuas - 1989

A Estrutura da Bolha de Sabão - 1991
A Noite Escura e Mais Eu - 1995
Invenção e Memória - 2000
Durante Aqueles Estranho Chá - 2002
Histórias de Mistério - 2010
Passaporte Para a China - 2011
O Segredo e Outras Histórias de Descoberta - 2012
Um Coração Ardente - 2012

Leia mais sobre Lygia Fagundes Telles aqui no Shereland:
No aniversário de Lygia Fagundes Telles, veja vídeo em que ela analisa a própria obra 
Dois contos sobre Carnaval 

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Ganhe quadrinhos ajudando instituições de caridade

Muitos que são fãs de jogos devem conhecer o Humble Bundle. Mas será que os fãs de quadrinhos também?

Eles começaram com jogos, em que disponibilizam pacotes de jogos, e você paga o quanto quiser. Além disso, esse dinheiro é dividido também com instituições de caridade e os desenvolvedores, sendo você quem decide quanto vai para cada um.

E de quebra, estão disponibilizando gratuitamente um exemplar, estando disponível agora Jungle Girl.

jungle-girl-humble-bundle.png

Abaixo, tirei um print-screen da série disponível essa semana (está sempre mudando o pacote disponível).

humble-bundle-books.png

Achou algum deles interessante? Veja como comprar.

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A gente lê: Praticamente Inofensiva

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Cheguei ao fim da "trilogia de cinco volumes" O Mochileiro das Galáxias, de Douglas Adams. Quem acompanha o Shereland sabe que venho lendo os livros da série desde março, intercalando com outras leituras. Mas se eu demorei três meses para concluir a coleção, o autor demorou 13 anos para produzi-la:  a primeira edição, O Guia do Mochileiro das Galáxias, foi lançada em 1979, e a última apenas em 1992.

Enfim, vamos ao  que interessa. Lembram que eu tinha dito que no quarto livro o protagonista Arthur Dent tinha encontrado uma namorada?  Pois é. Douglas Adams mudou de ideia e simplesmente sumiu com a moça neste livro. E aí três personagens da obra de estreia coexistem em histórias paralelas:

- Arthur está perdido por alguma galáxia até que encontra um planeta legal onde vira "fazedor de sanduíches";

- Ford Prefect tenta salvar o Guia do Mochileiro, que foi comprado por uma empresa chamada InfiniDim que "traiu o movimento" e só quer saber de lucrar;

- Trillian não está mais casada com o Zaphod Beeblebrox (como havia sido dito no quarto livro), mas é uma repórter ocupadérrima com uma filha cujo pai é uma grande surpresa :p 

No entanto, no planeta Terra, também existe uma Tricia jornalista frustrada desde que conheceu um alienígena de duas cabeças (Zaphod) numa festa e se recusou a partir numa nave espacial. É aí que a gente chega à grande tese do livro. O universo é cheio  de possibilidades. Quando fazemos uma escolha, a vida se desenrola a partir dali. Mas a escolha que a gente não fez também gera um novo mundo paralelo. 

Ou seja Trillian encontrou Zaphod que a fez uma proposta. O "sim" gerou a Trillian, o "não", a Tricia. E isso explica uma trama que tinha ficado em aberto no quarto volume: uma Terra foi destruída pelos vogons e outra não.

Vou ficando por aqui para não soltar nenhum spoiler. Ahhhh, só unzinho então. Elvis Presley faz participação especial!

 Coleção concluída e, ainda nesta semana, tentarei fazer um balanço.

Livros relacionados

O Guia do Mochileiro das Galáxias
O Restaurante do Fim do Universo
A Vida, o Universo e Tudo Mais
Até Mais, E Obrigado Pelos Peixes
Praticamente Inofensiva

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Estudo do perfil dos personagens de livros brasileiros (surpreendente, não?)

Quantos negros temos na literatura brasileira? E quantos deles são pobres? E quantos são bandidos?
Bom, não dá pra responder tudo, mas podemos ter uma ideia que não temos tantos negros assim (em 56,6% das histórias não temos um personagem não branco), temos muitos negros pobres (73,5% dos personagens negros são pobres) e uma quantidade considerável de negros são bandidos (20,4%).

Não sei você, mas eu fiquei surpreso com essa estatística. Sabemos isso através do site pontoeletronico.me, que se baseou em pesquisas de Regina Dalcastagnè.

Quer saber mais? Estamos colocando o infográfico completo logo abaixo.

infografico-perfil-literatura-contemporanea.jpg

Infográfico de pontoeletronico.me.

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Gabriela 2 de Julho de 2014 às 23:21

Pois é, me toquei dessa homogeinização do perfil dos personagens brasileiros quando fiz o post dos casais mais legais da literatura (http://bit.ly/1iwD1DH). Tentei procurar duplas diversificadas, mas penei. Os únicos casais gays que me vieram à cabeça, por exemplo, foram escritos por autores homossexuais. No caso de personagens negros tudo fica ainda mais curioso. Um dos nossos maiores escritores, Machado de Assis, era mulato, mas acredito que não há um protagonista não branco em seus romances.
E aí comecei a estender essa análise e percebi que não me lembro de um protagonista negro em algum romance de peso contemporâneo que não seja dos africanos Mia Couto e companhia. E livros adolescentes então? Se não me engano, em Harry Potter só tem um negro entre os estudantes que é tão coadjuvante que não consigo me lembrar o nome.