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A “quilometragem masculina” de Garrincha

por Daniel Barbosa

Ontem, eu, Gabriela, contei o que achei da biografia de Garrincha Estrela Solitária, escrita por Ruy Castro . Meu amigo Daniel, sempre tão generoso com este blog, acabou me enviando e cedendo um texto que ele havia feito sobre o mesmo livro. 

Acabei de ler Biografias & biógrafos: jornalismo sobre personagens, do jornalista e pesquisador Sérgio Vilas Boas. O livro, que "é um levantamento de diversas questões envolvidas no processo biográfico", também traz uma história que eu desconhecia sobre Estrela solitária: um brasileiro chamado Garrincha, primorosa biografia tecida por Ruy Castro, grande alquimista do nosso biografismo.

garrincha-pernas.jpg

A escrita de uma biografia pode proporcionar alguns contratempos ao seu autor, principalmente se a obra é não autorizada – lembram do drama de Paulo César Araújo, autor de Roberto Carlos em detalhes? E se a narrativa não abordar tão somente fatos cândidos da vida do biografado, o autor viverá um pesadelo e estará envolto em maus lençóis. Foi o que aconteceu com Ruy Castro, que conheceu dias dramáticos e se transformou em personagem de um enredo judicial, tudo porque informou as medidas da "quilometragem masculina" do craque: 25 centímetros – fato importuno para as herdeiras de Mané Garrincha.

Furiosas, pois consideraram que o jornalista-escritor havia arranhado a imagem do pai- jogador, recorreram à justiça. Por conta disso, em 27 de novembro de 1995, Ruy Castro tirava seu time de cima das prateleiras das livrarias. A venda de sua obra estava proibida.

E o que inicialmente seria uma biografia, virou uma novela. Em abril de 2001, Castro ainda protagonizava outros episódios desta tragédia editorial. Na época, a juíza Maria Helena Martins, da 42ª Vara Civil do Rio de Janeiro, condenava a editora Companhia das Letras - responsável pela publicação - a pagar mil salários mínimos à família da 'estrela solitária' - a briga também envolvia 180 fotografias de Garrincha, publicadas no livro. O valor da indenização acendeu ainda mais a revolta da família, que exigia R$ 1 milhão, alegando danos materiais e morais. O desembargador João Wehbi Dib negou o pedido.

Hoje, passado o contratempo, a justificativa do magistrado deve soar cômica até para as herdeiras do jogador de Pau Grande – Calma! Este é o nome da cidade onde nasceu o ídolo das pernas mais tortas que já defenderam o Botafogo. Dib ponderou que "o tamanho do pênis de Garrincha deveria ser motivo de orgulho para os familiares, não uma ofensa". Segundo o livro de Vilas Boas, Dib ainda argumentou com as seguintes palavras: "as asseverações de possuir um órgão sexual de 25 centímetros e ser uma 'máquina de fazer sexo' [título de um dos capítulos], antes de serem ofensivas, são elogiosas, malgrado custa crer que um alcoolista tenha tanta potência sexual. Há que assinalar que ter membro sexual grande, pelo menos no nosso país, é motivo de orgulho, posto que significa masculinidade".

Mesmo com a hilária e – por que não? – justa conclusão do desembargador, o Conselho de Desembargadores reconheceu a necessidade de indenizar as filhas de Garrincha: as moças receberam – e recebem – 'pequenos' 5% do valor das vendas do livro.

A verdade é que o quiproquó não passou de uma besteirinha, uma firulinha, não acham? O que são 25 centímetros comparados à nobreza da arte de Garrincha, que, sem dúvida, habita os gramados mais largos e verdejantes do Olimpo futebolístico mundial? Mais que virilidade, aí está a grandeza e o brilho da “estrela solitária”, tão bem delineados por Ruy Castro.

Daniel Barbosa é jornalista e, seja no trabalho ou em seus perfis sociais, faz os textos mais legais disponíveis por aí. É por isso que a gente tem que torcer para ele largar de besteira e voltar a escrever no blog. O mundo seria um lugar menos careta ;P 

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A gente lê: Estrela Solitária - Um brasileiro chamado Garrincha

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Quando peguei Estrela Solitária - Um brasileiro chamado Garrincha na estante da casa da tia Berna, meu interesse era tanto no jogador, quanto em Ruy Castro. Nunca tinha lido algo escrito pelo autor, apesar de muito ter ouvido que ele é o gênio das biografias.

Não duvido mais. Ruy Castro fez 500 entrevistas com 170 pessoas (de Chico Buarque à Elza Soares, de Zagalo a Ziraldo) durante dois anos e meio. O resultado foi praticamente a ressurreição de Garrincha.

O livro começa lá na tribo indígena integrada pelo avô do astro em Quebrangulo (AL). Os descendentes de José Francisco do Santos descem para Pau Grande, no Rio de Janeiro, onde vão se aglomerar em torno de uma fábrica de tecidos comandada por ingleses. É ali que Garrincha nasce e cresce soltinho, sem mimo nem bronca, enquanto o pai galanteador faz "visitas" às mulheres da região.

Aos 14 anos, o moço começa a trabalhar na fábrica, onde era muito ruim de serviço, mas cheio de regalias porque, adivinhem só, arrasava em campeonatos da região jogando pelo time dos funcionários. Ruy Castro especula que, por ter praticado muito no campinho de terra de Pau Grande, Garrincha tenha fortalecido as pernas e aprendido a driblar buracos!

Daí um jogador do Botafogo, Araty, é convidado para apitar uma partida amadora em 1952 e descobre o tal lateral de pernas tortas. Vocês acham que Garrincha ficou deslumbrado? Imagina! Um ano depois é que, finalmente, resolve fazer um teste na capital. Pronto. Nascia a estrela.

Imagino que leitor que desgosta de futebol não deva encarar essa biografia, pois, a partir daí, vão rolar muitos causos sobre Campeonatos Cariocas e sobre as Copas do Mundo conquistadas pelo nosso herói (a de 1958 na Suécia, onde engravidou uma gringa, e a de 1962 no Chile). 

Esses são capítulos de glória. O despachado jogador só fazia o que queria, mas tudo era compensado pela genialidade. Até que ele se apaixona perdidamente pela cantora Elza Soares e, pouco depois do bi mundial, abandona a família que já estava abandonada fazia tempos. Então, para os olhos do público, vira a encarnação de tudo o que é impuro no mundo, o que só piora com o fato de que o joelho do craque estar bichado - essas coincidências da vida.

Quanto mais ele se tornava celebridade alcoólatra e irresponsável, menos seu corpo permitia que ele jogasse o seu futebol. E aí a parte final é de ler com o coração apertado: bebidas, vexames, agressões à Elza, internações. Mas a real é que, apesar dessa coisa de "Estrela Solitária", eu achei que Garrincha recebeu considerável apoio. A única birra minha em relação ao livro é que acho que Ruy Castro foi meio injusto com Pelé.

Predileções a parte, se você não tem uma estante da tia Berna ao seu dispor, o livro está em oferta neste momento na Livraria da Folha, por R$ 49,00 .

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A gente lê: Jakob Von Gunten

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Novamente, resolvi pular numa sugestão da editora da Companhia das Letras Vanessa Ferrari e conhecer uma obra que nunca tinha ouvido falar. Desta vez, foi Jakob Von Gunten - Um Diário, do suíço Robert Walser.

Escrito em 1905, é o diário de um jovem fictício de família rica que se interna em uma escola de formação de criados.

Quando começamos a ler os relatos de Jakob, ele já está no Instituto Benjamenta há um tempo e tenta mostrar gratidão por ter se livrado do seu orgulho e individualidade em prol da arte de servir.

Só que Jakob é malandro. Logo nas primeiras páginas, percebemos que não é nenhum um pouco confiável. O "herói" não se sujeita, descreve os colegas de maneira ironicamente cruel (coitado de Krauss, o aluno-modelo do Instituto) e ainda tem como passatempo provocar o velho Sr. Benjamenta - o dono da escola.

Acontece que eu nunca tinha topado com uma narrativa como essa. Sabe aqueles saltos no tempo que os narradores em primeira pessoa costumam dar para se apresentar (e se aproximar) do leitor?  Pois é, Walser resolveu não fazer isso.

Como se fosse de carne e osso, o personagem escreve em tempo real, sem necessidade de explicar quem foi, onde nasceu, chegou ali. O que nos resta é ler o presente e tentar encaixar as pecinhas. 

É por suposição que entendi que o Instituto ia mal das pernas, sobrevivendo em uma sociedade que já não admitia mais a relação de criadagem pregada ali. Também é pelo achismo que vi um triângulo amoroso entre o protagonista, o Sr. e a Sra. Benjamenta.

Talvez.

O romance começou, terminou e Jakob continuou sendo um completo estranho para mim.

Imagino que em virtude dessa distância da narrativa, tive dificuldade de criar vínculo com a história.  Resultado: eu começava a ler o livro e logo me pegava pensando na morte da bezerra. E é duro dizer isso de uma obra que sei que é prima. 

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Eles leem: Valesca Popozuda

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Beijinho no ombro para vocês que torcem o nariz para a funkeira Valesca Popozuda. Nesta semana, a cantora postou uma foto em seu Instagram mostrando que está lendo o clássico Madame Bovary, de Gustave Flaubert.

Lançada em 1857, a obra francesa é considerada o marco inicial do realismo - pelo menos é isso que aprendi no colégio. Trata-se da história do tolo médico Charles Bovary, que se casa com Emma - uma mocinha romântica que vive lendo livros de amor. O casamento é um tédio, até que a mulher resolve colecionar amantes.

Achou besteira? Pois saiba que essa história de adultério escandalizou a sociedade, e Flaubert foi processado por imoralidade. 

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A gente lê: O Namorado do Papai Ronca

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Mais um livro do autor Plínio Camillo (falei um pouco dele sobre o livro Coração Peludo).

O livro conta um ano de vida de Dante, personagem que passa a morar em Procópio, vindo de São Paulo, e está se acostumando a essa vida nova em cidade pequena. Ele tem certas dificuldades para se acostumar, e não consegue se enturmar muito com os novos amigos. E pelo próprio nome do livro, o pai dele tem um namorado, e por ser uma cidade do interior, há conflitos com isso.

À primeira vista, eu esperava encontrar muita coisa sobre essa história do pai, mas o livro é escrito balanceando isso à vida de Dante, e tentando mostrar a percepção dele a isso. E a forma de escrever é super atual (o pessoal até usa redes sociais para conversar), informal e um pouco como um diário.

E ressaltando também, o livro ganhou apoio do Concurso de Apoio a Projeto de Primeira Publicação de Livro no Estado de São Paulo

Interessou-se? Pois nesta quarta-feira, 23/07/2014, o autor está lançando sua outra obra, Coração Peludo, em São Paulo. 

Horário: 19h às 21h30

Local: Casa das Rosas – Avenida. Paulista, 37 – Bela Vista – São Paulo

Custo: R$ 35,00 (trinta e cinco reais; no evento, pagamento somente com dinheiro ou cheque)

Mais informações 

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