A gente lê

Aqui contamos para você qual é o livro que a gente anda carregando na mochila. (Porque, acima de tudo, nós do Shereland somos leitores)

A gente lê: Por Favor, Cuide da Mamãe, da escritora sul-coreana Kyung-Sook Shin

Imagine a situação: seus pais idosos vêm do interior para visitar você e seus irmão na maior cidade do país. Na hora de tomar o metrô, seu pai entra e sua mãe fica para fora. Aí os dias passarão, mas vocês não conseguem encontrá-la.

É esse o dramático cenário inicial de Por Favor, Cuide da Mamãe, da sul-coreana Kyung-Sook Shin. A partir daí, diferentes membros da família vão narrar o ponto de vista deles no meio desse imbróglio. Memórias sobre aquela mãe tão generosa e ativa vão fazer os familiares perceber pela primeira vez que a mulher estava senil, muito doente e que talvez não tenha condições de sobreviver ao mundo lá fora. 

O livro - um best-seller estrondoso na Coreia do Sul -  fala sobre culpa e sobre como não conhecemos sequer as pessoas que vivem em nossa casa. Segundo a própria autora, foi pensado numa vez em que ela foi com a própria mãe para Seul e finalmente reparou como a mulher era solitária. "Antes de perdermos nossas mães, já havíamos nos esquecido delas", filosofou Kyung-Sook em entrevista ao jornal The Guardian,

Triste, né? Por isso, não indico a leitura se você acabou de enfrentar uma perda ou se está lidando com a doença de algum ente querido.

Ah, advirto ainda sobre o texto. Eu, que não estou acostumada a autores orientais, senti um pouco de estranhamento no início. Vi que alguns críticos deste lado de cá do mundo criticaram um pouco o tom passivo e meio retrógrado da personagem, mas, gente, ler autores estrangeiros é bom para entender outros modos de vida, certo?

Eu peguei o livro emprestado da minha mãe, cadastre-se no Shereland, adicione os conhecidos e veja se alguém também não tem a obra para te emprestar.

Se preferir, clique aqui para visualizar Por Favor, Cuide da Mamãe na Amazon. Até a data em que este post foi publicado, está por R$ 8,90!

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A gente lê: Sergio Y. Vai À América, de Alexandre Vidal Porto

Anselmo é um psiquiatra bem-sucedido, que já chegou ao ponto de escolher os pacientes que vai atender em seu consultório em Pinheiros, bairro abastado de São Paulo. Um dia, chega até a ele Sergio Y., um garoto de 17 anos cujo problema maior é ser triste. Não adianta, o garoto é rico (descende do dono de um aglomerado de lojas que talvez seria o equivalente a uma Casas Bahia), bonito, tem futuro, mas é triste.

A inteligência de Sergio instiga Anselmo, e eles conseguem evoluir bem, mas o menino finaliza o tratamento sem mais nem menos depois de fazer uma viagem a Nova York.

Passam-se anos, até o médico ouvir o nome do ex-paciente envolvido numa notícia bombástica. É esse fato que vai causar uma reviravolta nas certezas de Anselmo, fazendo-o questionar inclusive a sua vocação. Teria falhado? Seria um péssimo profissional? Assim, ele afunda numa missão pessoal para entender a cabeça do menino e reconquistar a paz. 

Não, eu não vou soltar qualquer dica sobre o que rolou com Sergio e, com isso, deixo uma lacuna bem grande nessa resenha. Sergio Y. Vai À América é um livro complexo, aborda questões humanas, mas acho que você vai gostar muito mais de descobrir tudo sozinho.

"Acredito que todas as pessoas do mundo têm um kit básico que é a única maneira de se comunicar. Eu trabalho com essa humanidade comum", definiu o escritor Alexandre Vidal Porto, em um curso que ministrou na Companhia das Letras e do qual participei. Ali, o autor disse que Sergio Y. Vai à América fala sobre otimismo, autoexílio e transformações (ou seriam metamorfoses?). 

Entretanto, eu acrescentaria mais um item à lista: empatia. Não pude deixar de fazer um paralelo entre Sergio Y e  O Sol é Para Todos, de Harper Lee, em que a personagem Scout só desvenda o desfecho da história quando se imagina andando sobre os passos de um personagem em questão. Scout e Anselmo entram na pele do outro, coisa que, aliás, a gente podia praticar mais.

Ah, vale dizer que Sergio Y. Vai a América é daqueles livros para ler numa sentada só. Citando o próprio autor: "Só peço a vocês que leiam a primeira página, daí eu me garanto".

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A gente lê: Os Mil Outonos de Jacob de Zoet, de David Mitchell

Século XVIII, a Europa ainda desbravava os oceanos para colocar o restante dos continentes ao seu dispor. A Companhia Holandesa das Índias Orientais, por exemplo, enviava anualmente um navio à cidade de Nagasaki, no Japão, onde uma ilha artificial, Deijima, alocava seus funcionários. Lá, os estrangeiros vendiam, compravam, mas, ao contrário do que ocorreu em muitas nações da América e Ásia, eles não conseguiram firmar a soberania.

Povo antigo, os japoneses estipularam suas regras e, com isso, vigiavam de perto a tripulação holandesa que ia além de comerciantes. Havia também médicos, cozinheiros, administradores, etc, etc. 

Bom, essa é a parte histórica, exaustivamente pesquisada por David Mitchell para servir de pano de fundo para a ficção Os Mil Outonos de Jacob de Zoet.

O escritor fez com que, num desses navios europeus, chegasse o escrivão Jacob de Zoet, cujo objetivo era permanecer cinco anos com a Companhia para guardar dinheiro e se casar com Anna. Mas dois pontos bagunçam seus planos: sua esperteza, que acabou atraindo a atenção do chefe - para o bem e para o mal; e a parteira Orito, que estudava em Deijima.

E aí tenho que parar por aqui, pois esse é aquele tipo de narrativa do jeitinho que a gente gosta: tão cheia de desenrolares, que qualquer revelação pode estragar as surpresas da sua leitura. Fiquei alucinada com o livro, mas dou uma dica preciosa: anote os nomes e funções dos personagens para não se perder. 

Os Mil Outonos de Jacob de Zoet foi um presente que ganhei da querida Bonie, o que me faz pensar que uma boa tática para descobrir escritores novos é seguindo indicações e dicas dos amigos <3

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A gente lê: Terra Sonâmbula, de Mia Couto

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Terra Sonâmbula é o primeiro romance do escritor moçambicano Mia Couto -  antes disso ele havia lançado apenas coletâneas de contos ou crônicas. A história foi escrita durante e sobre a guerra civil que assolou Moçambique entre 1976 e 1992 (a publicação do livro se dá no último ano do conflito).

Portanto, antes de falar sobre a estória, vale retomar um pouco a história.

O contexto histórico de Terra Sonâmbula

De 1965 a 1975, Moçambique lutou por sua independência após mais de 400 anos como colônia portuguesa. Quando conquistada a autonomia, dois grupos locais passaram a brigar pelo poder: o FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) - de orientação marxista - e o RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana). Enquanto o primeiro tinha a presidência e a influência nas áreas urbanas, o segundo dominava a região mais rural. Atrocidades são atribuídas a ambos.

Você pode saber mais sobre a história de Moçambique até mesmo no Wikipedia.

Resumo de Terra Sonâmbula

A trama começa com o idoso Tahir e o menino Muidinga caminhando sem rumo numa estrada rural devastada. Eles tinham acabado de deixar um campo de refugiados e acharam que teriam mais chances de sobreviver aos humores dos grupos armados numa paisagem mais inóspita.

Logo nas primeiras páginas, os personagens encontram um ônibus queimado cheio de corpos carbonizados. Do lado de fora do veículo, jaz um defunto baleado junto de uma mala contendo um diário. É aí que Muindinga faz uma descoberta crucial: ele pode ler! 

Terra Sonâmbula, portanto, é composto pela alternância de duas narrativas: 

Narrativa 1. Tahir e Muindinga

Com o passar das páginas, saberemos que Tahir encontrou Muindinga semi-morto e o salvou. No entanto, Muindinga havia perdido a memória ao 'renascer' e vai querer resgatar a própria história a qualquer custo. Há análises que dizem que o garoto é uma metonímia do próprio Moçambique lutando para achar suas raízes.

Órfão, o menino faz constantes tentativas de dar uma função paterna a Tahir. Este é reticente mas, com o anoitecer, sempre se aproximará de Muindinga, pedindo que ele continue a ler em voz alta os cadernos encontrados na mala. O momento da leitura é um conforto e uma fuga da realidade. 

Narrativa 2. Os cadernos de Kindzu

Se a trama de Tahir e Muindinga se desenrola já num cenário de fim de guerra, os diários de Kindzu vão mostrar como o conflito foi se formando. Não, não existe nada de muito jornalístico no relato, mas é pela desumanização dos personagens que vamos percebendo que algo de errado está acontecendo.

Habitante de um pequeno vilarejo, Kindzu tinha uma vida OK, mas o conflito civil chega para desgraçar sua família. Depois de muitas perdas, ele larga tudo dizendo que quer se tornar um naparama (guerreiros que lutavam contra os grupos armados), mas acho que isso era apenas uma desculpa: Kindzu queria mesmo é dar o fora. Só que parece que deixar a própria casa não é um ato bem visto pelos moçambicanos. A culpa faz com que o homem passe a ser assombrado pelo fantasma do pai.

Durante sua trajetória, Kindzu encontra diversos personagens e eventos fantásticos (por isso, às vezes podem parecer sem noção) que sempre nos deixará a dúvida se aquela cena é sonho, superstição ou realidade.

Terra Sonâmbula é um livro difícil?

Antes de escrever este post, dei uma procurada em impressões sobre o livro e encontrei pessoas dizendo que tiveram dificuldades para ler.

Acho que o incômodo pode ser causado essencialmente pela linguagem de Mia Couto. Ele gosta de inventar palavras à Guimarães Rosa (sim, o autor tem muita influência da literatura brasileira) e escreve coisas como "convindançante", "deslembrar" e "pensageiro". Também vi por aí que o escritor gosta de 'africanizar' o português, colocando no idioma oficial expressões faladas pelo povo. Portanto, grave na memória que no final da edição de Terra Sonâmbula tem um glossário salvador.

De qualquer maneira, não se desespere! Há um estranhamento inicial, mas com o passar das páginas dá para se acostumar tranquilamente. 

Ah, Terra Sonâmbula virou filme em 2007 graças a uma co-produção de Portugal e Moçambique. Eu ainda não vi, mas está disponível no YouTube.

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A gente lê: os contos de Os Amores Difíceis, de Italo Calvino

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Li Os Amores Difíceis, de Italo Calvino, em janeiro, mas só agora tive coragem para escrever este post. Não, não por causa da obra em si, porém receio que ainda não tenha compreendido muito sobre o escritor para vir aqui falar com vocês.

Bom, o livro foi uma indicação da Cláu do vlog Tô Lendo para o nosso Clube do Livro. Trata-se de um compilado de treze contos e mais duas novelas que, pelo que entendi, foram assim reunidas pela editora Companhia das Letras, não pelo autor.

Os contos da primeira parte começam sempre com "As aventuras de" e, neles, o autor flerta com a literatura fantástica. Em meu favorito, por exemplo, temos uma mulher nadando no mar que acabou de perder a parte de baixo do biquíni e não sabe como voltar andando até a areia. Me parecem que, em sua maioria, são histórias em que o banal do cotidiano é perturbado por algo com o qual o protagonista não sabe lidar.

Para fechar com chave de ouro, as duas novelas contadas na segunda parte do livro, A Vida Difícil, temos os protagonistas lutando contra forças da natureza muito mais fortes do que eles. Ambas são maravilhosas.

Sim, sim, sim. Recomendo esse livro! Só recomendo também que você pule o apêndice no final do livro que, pelamor... Eu achei que finalmente fosse ler uma explicação sobre quem Calvino foi para a literatura, mas no final é um blábláblá hermético para quem já entende do assunto.

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