A gente lê

Aqui contamos para você qual é o livro que a gente anda carregando na mochila. (Porque, acima de tudo, nós do Shereland somos leitores)

A gente lê - Eu: Robô + importância das três leis da robótica na ficção científica

Até os anos 40, as estórias sobre robôs mostravam máquinas megalomaníacas subjugando humanos para tomar o poder do universo. Para Isaac Asimov, porém, os androides não precisavam ser sempre malvados. E se eles fossem retratados como parceiros, usando sua inteligência superior a favor do homem? Alguns textos escritos pelo autor russo naturalizado americano para revistas de ficção científica partiam dessa premissa e, em 1950, nove deles foram compilados, ganharam uma unidade e resultaram em Eu: Robô.

A trama se passa em 2057, quando um jornalista está entrevistando a já aposentada Dra. Susan Calvin, uma famosérrima psicóloga roboticista da empresa que, pelo que entendi, dominou a produção de máquinas pensantes durante todos os anos. Cada episódio/conto recordado pela doutora mostrará um passo da evolução dos robôs: desde os primeiros incapazes de falar, até os mais desenvolvidos, já com alta capacidade administrativa (melhor não dar spoiler). Eu diria que Eu: Robô chega a ser uma utopia.

O livro eternizou-se mesmo por causa da criação das três leis da robótica:

1ª Lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal;
2ª Lei: Um robô deve obedecer as ordens que lhe sejam dadas por seres humanos exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a Primeira Lei;
3ª Lei: Um robô deve proteger sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira ou Segunda Leis.

São elas que resolverão os problemas apresentados em cada conto (o que, na minha opinião, os torna totalmente previsíveis). Mas, segundo a Cláu, dona do vlog Tô Lendo (sigam!) e também mestre entendidona em literatura fantástica, os postulados significam muito mais: "Quem escreveu ficção científica nos anos 60, 70, 80, 2000 leu Asimov. Tudo o que tem sobre robôs é, de alguma forma, relacionado a ele. As leis robóticas foram até 'emprestadas' da ficção científica para a ciência e são consideradas na criação de inteligência artificial".

A Cláu também destaca a escrita gostosa De Asimov: "Ele escreve de um jeito que parece que a gente tá comendo chocolate enquanto lê". Particularmente, não é uma obra que vai entrar para a minha lista de favoritos, porque, na realidade, eu não gosto de ficção científica (a mesma Cláu tinha me indicado Eu: Robô como minha última chance de gostar do gênero). Mas, ainda assim, achei legal ter a experiência de ler algo mais exato.

Existe um filme homônimo com Will Smith, mas o Rafael aqui do Shereland diz que foi uma adaptação bem infiel. Então, na dúvida, leia o livro. Você pode comprá-lo na Amazon por R$ 19,46 (até a publicação desta post) clicando aqui ou cadastrar-se no Shereland, adicionar amigos e ver se alguém tem o título para te emprestar.

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A gente lê: Em Parafusos, Ellen Forney desenha sobre o transtorno bipolar

Parafusos são as memórias em forma de quadrinhos de quando a artista Ellen Forney descobriu que é Bipolar I, pelo que entendi, o tipo do transtorno com variações mais radicais entre os picos de euforia e os picos de depressão. Vejam só:

De início, o diagnóstico até fez com que a quadrinista acreditasse que tinha sido aceita no que ela chama de Clube Van Gogh, essa lista vasta de escritores, poetas e pintores talentosíssimos e perturbados:

Nessa época de descoberta, Ellen estava em uma fase de agitação máxima e achou que qualquer tratamento com remédios podaria a sua genialidade. Só que a alegria foi embora no decorrer dos meses e, quando a depressão começou, a moça percebeu que não seguraria a onda sem uma ajudinha química. Olhem à direita que desenho genial ela fez para definir a depressão.

E é aqui que chego no que identifiquei como conflito principal do livro: Parafusos é a saga de uma pessoa com distúrbio de humor atrás de um tratamento que a estabilize. Não pensem que é fácil. Durante os quatro anos em que levou até chegar à combinação ideal, Ellen documentou cada remédio experimentado (tem uma avaliação interessante sobre a maconha), os efeitos colaterais sentidos (por exemplo, quando uma pessoa toma lítio - sim, aquele da música do Nirvana -, precisa tirar sangue periodicamente para não se intoxicar) e os trechos das consultas na psiquiatra. 

Outro ponto importante do livro é a busca de Ellen para entender a associação já comprovada entre a criatividade e bipolaridade. E aí, nesses trechos da HQ, a gente conhece um pouco da biografia de alguns maníaco depressivos famosos, como Van Gogh, Edward Munch e Sylvia Plath.

Se você tem algum distúrbio de humor, acho que esse livro pode ajudar você a aceitar melhor a doença. Se você não tem, é uma importante ferramenta para você compreender e parar de julgar que depressão é apenas uma questão de mimimi.

Para finalizar, deixo um vídeo com entrevista que a escritora Ellen Forney deu a um canal de TV explicando por que desenhou Parafusos. Mesmo que não entenda a língua, é legal para ver alguns desenhos com maior nitidez e também, claro, a cara da Ellen real.

Sabem como descobri a existência desse livro publicado em  2012? Com o canal Tô Lendo. Foi o vídeo da Cláudia que me instigou a ler o livro e, adivinhem só, peguei emprestado com ela mesma. Se quiserem ver a resenha da Cláu sobre Parafusos, cliquem aqui e não se esqueçam de seguir o canal depois!

E se também quiser ver se algum amigo tem a HQ para emprestar, cadastre-se no Shereland, adicione amigos e espie as estantes deles.

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A gente lê: Durante Aquele Estranho Chá + conselhos dos escritores à Lygia Fagundes Telles

Durante Aquele Estranho Chá reúne 21 crônicas que Lygia Fagundes Telles escreveu ao longo da vida sobre, tcharam, literatura. Estão neste livro memórias sobre a descoberta do que a autora tanto gosta de chamar de vocação, seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras em 1987, mas o que achei de mais precioso foram os textos sobre seu convívio com outros escritores.

Sempre alguns passos lá na frente, Lygia era uma das únicas mulheres na Faculdade de Direito Largo de São Francisco e, talvez por esse atrevimento, teve a oportunidade de tomar um chá com Mário de Andrade e visitar Monteiro Lobato na prisão quando este foi pego pela ditadura de Vargas em 1941. Com a ascensão da carreira literária, participou de eventos com Jorge Luis Borges, Simone de Beauvoir e viajou com Clarice Lispector. Fora isso, era amiga de Hilda Hilst, Carlos Drummond de Andrade e Caio Fernando Abreu, mas, infelizmente, não tem texto sobre este.

Não para por aqui. O segundo marido de Lygia era ninguém menos que o crítico de cinema Paulo Emílio Sales Gomes e, assim, a escritora chegou a conviver com Glauber Rocha e a trupe do Cinema Novo.

Que vida, não é? 

O que Lygia Fagundes Telles aprendeu com grandes estrelas literárias

Para incentivá-lo a largar tudo e ir atrás de Durante Aquele Estranho Chá, separei algumas citações de frases que grandes autores teriam dito para Lygia. 

 

"Ouça, o que é mais importante para você, ser considerada mais bonita ou mais inteligente? Respondi sem pestanejar: Mais inteligente! Então ele riu o riso mais comprido daquela tarde, ah! como eu era bobinha! Livresca e bobinha! A beleza é tão importante, menina. Sei o que estou dizendo, eu que sou um canhão!"
conversa com Mário de Andrade 

 

"todo aquele que faz o elogio da velhice, esse não pode mesmo amar a vida, não pode amar a vida."
Simone de Beauvoir

"Acreditar no sonho, entregar-se ao sonho porque só o sonho existe."
Jorge Luis Borges 

"Desanuvie essa testa e compre um vestido branco!
Clarice Lispector

"O importante é não entregar os pontos, fincar o pé. Na noite escura, na negra noite dos velhos, os sons vão se amortecendo, vozes e imagens vão ficando distantes. A gente fica só. E porque está escuro, só aí é que damos com o vivíssimo olho da morte ora surgindo por detrás das moitas, por detrás de um muro, a nos espreitar... A gente então precisa acender o fogo e ficar assim vigilante, acordado."
Monteiro Lobato

Nas fotos a seguir, Lygia e Borges (à direita) e com Glauber Rocha.

Com o cineasta Glauber Rocha

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A gente lê: A Sangue Frio, de Truman Capote + filme Capote + contribuição de Harper Lee

Em 15 de novembro de 1959, cada membro de uma próspera família americana levaram um tiro no rosto. O já consagrado escritor e jornalista Truman Capote viu uma notinha no jornal sobre esse crime e pediu para cobri-lo para a famosa revista de reportagens 'raíz' New Yorker. 

De início, acho que ele queria apenas mostrar as consequências de algo bárbaro para uma cidadezinha americana pacata - até então, os habitantes de Holcomb, no Kansas, sequer trancavam as portas à noite. Só que em pouco mais de um mês, os criminosos foram pegos, presos e condenados à morte. E é aí que Capote tem a chance de criar um dos romances de não ficção mais importantes da história, A Sangue Frio. O escritor fez visitas frequentes nas celas de Perry e Dick durante os seis anos em que eles esperaram pela forca e até assistiu às execuções e, com isso, acabou conquistando um ponto de vista jamais alcançado na literatura. 

Ora, então significa que o leitor sabe desde o começo quem são os assassinos e qual será a punição deles? Aham. Mas, mesmo assim, você vai ficar louco para saber suas motivações e outros mistérios que vão surgindo ao longo das 400 páginas. Acho ainda que a obra é bem importante para refletir - dessa vez com fatos - sobre pena de morte.

O texto A Sangue Frio foi publicado aos picados em quatro edições da New Yorker de 1965 (eita, editor santo esse que financiou uma reportagem durante seis anos!) e, meses depois, saiu na íntegra em formato de livro.

Comparação com o filme Capote, de Bennett Miller

Lançado em 2006, o filme Capote (tem no Netflix!) revela os bastidores da feitura do livro A Sangue Frio. Obviamente, vale assistir depois da leitura.

O escritor foi muito questionado sobre a veracidade de sua narrativa, e o longa mostra com precisão que muitas falas atribuídas a um ou outro personagem do livro foram raciocínios de Capote. A interferência não para por aí: o autor teria pagado advogados particulares para Dick e Perry com a finalidade de manter suas fontes vivas (e falantes) por seis anos. O filme insinua também que, quando já estava esgotado da história, Capote simplesmente largou a mão do apadrinhamento.

Acho que nada disso desmerece a obra, pois precisão jornalística é uma mentira. O próprio filme  tem incongruências em relação à história (aquele discurso final de Perry, por exemplo, não é o mesmo do livro ou estou maluca?).

Outra curiosidade bem explorada pelo diretor Miller é a colaboração de Harper Lee com A Sangue Frio. A escritora viajou com Capote para Holcomb e foi fundamental nas entrevistas com os arredios habitantes da cidadezinha. Meses depois, lançaria sua grande (e única) obra-prima, O Sol É Para Todos, livro em que Capote aparece criança escondido pelo personagem Dill. 

Mas, na minha opinião, a influência vai além, porque encontrei paralelos na ideologia por trás de uma obra e outra. Se O Sol É Para Todos é um infanto-juvenil cuja moral é "você só entenderá uma pessoa quando andar sob seus sapatos", A Sangue Frio aplica empatia na prática. Capote só conseguiu fazer o livro porque refez os passos de cada envolvido no crime. Até demais, porque dizem as más línguas que ele se apaixonou pelo bandido Perry. Nunca saberemos.

Tanto a obra de Harper como a de Capote são magistrais, acho que você tem que se cadastrar agora no Shereland e colocar as duas na sua wishlist de leitura.

Clique aqui para visualizar A Sangue Frio na Amazon (numa promoção, consegui comprar o e-book por menos de R$ 13 ) e clique aqui para visualizar O Sol É Para Todos

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A gente lê: Contos Maravilhosos Infantis e Domésticos, dos Irmãos Grimm

Chega de idealizações, está na hora de conhecer as versões reais das narrativas que você ouvia quando era pequeno. Contos Maravilhosos Infantis e Domésticos traz na íntegra as 156 estórias compiladas pelos Irmãos Grimm entre 1812 e 1815. 

Ao contrário do que eu achava, Jacob e Wilhelm não são os autores dos contos de fadas. Eles viajaram por anos no interior do que ainda não era a Alemanha documentando as lendas, lições de moral e até ditados transmitidos oralmente de geração a geração. Ou seja, o que os Irmãos Grimm fizeram foi arrumar um jeito de não deixar as estórias morrerem. No entanto, estudiosos acreditam que é impossível que eles tenham transcrito os textos sem dar aquele tapinha final.

O resultado é surpreendente. Ao reler clássicos como Rapunzel, Branca de Neve e Cinderela, você terá a oportunidade de checar como as estórias evoluíram (e encaretaram) ao longo dos anos. Fora isso, tem também contos menos conhecidos, mas também bem divertidos, como A Moça Sem Mãos ou - para os fãs do seriado Once Upon A Time - Rumpelstilzchen. 

Tem um post só sobre o que há de mais aterrorizante e politicamente incorreto nos contos.

Mas, afinal, Contos Maravilhosos Infantis e Domésticos é para qual público? Acho que para todos. Como falei, é uma experiência divertida para os adultos, mas também acho uma coleção bem legal para ler para as criançada e manter a tradição. Claro, pulando as tramas que você achar inadequadas.

Para tornar tudo mais saboroso para nós leitores brasileiros, quem editou o livro foi a caprichosa Cosac Naify. São dois volumes lindos, super coloridos e ilustrados pelo gravurista pernambucano J. Borges. Tirei algumas fotos do meu exemplar para você ficar babando:

 

Sei que nem sempre os livros da Cosac são baratos, mas essa é também a editora que mais faz promoção que conheço (comprei os meus exemplares por R$ 49 numa promoção de fim de ano). Se preferir, cadastre-se no Shereland, adicione amigos e veja se alguém tem para emprestar ;)

Clique aqui para visualizar na Amazon.

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