Que rápido. Já passou metade das férias de Julho. Se seus filhos (sobrinhos, afilhados, amiguinhos, etc) estão com tempo livre, que tal uma diversão a mais com leitura?
Nós do Shereland demos uma procurada em algumas atividades para se fazer por São Paulo.
As atividades serão em Fradique, Lorena, Moema e nos shoppings JK Iguatemi, Cidade Jardim, Pátio Higienópolis. Serão na Livraria da Vila, em que contarão diversas histórias para crianças. Ainda tem oficina de colagem, construção de fantoche e muitas outras atividades.
O tema das atividades são Alice no País das maravilhas, devido os 150 anos da publicação da obra. Tem Desenho Livre dos personagens do livro, caça ao tesouro, contação de histórias, jogos sensoriais e iniciação de crianças na leitura.
Parafusos são as memórias em forma de quadrinhos de quando a artista Ellen Forney descobriu que é Bipolar I, pelo que entendi, o tipo do transtorno com variações mais radicais entre os picos de euforia e os picos de depressão. Vejam só:
De início, o diagnóstico até fez com que a quadrinista acreditasse que tinha sido aceita no que ela chama de Clube Van Gogh, essa lista vasta de escritores, poetas e pintores talentosíssimos e perturbados:
Nessa época de descoberta, Ellen estava em uma fase de agitação máxima e achou que qualquer tratamento com remédios podaria a sua genialidade. Só que a alegria foi embora no decorrer dos meses e, quando a depressão começou, a moça percebeu que não seguraria a onda sem uma ajudinha química. Olhem à direita que desenho genial ela fez para definir a depressão.
E é aqui que chego no que identifiquei como conflito principal do livro: Parafusos é a saga de uma pessoa com distúrbio de humor atrás de um tratamento que a estabilize. Não pensem que é fácil. Durante os quatro anos em que levou até chegar à combinação ideal, Ellen documentou cada remédio experimentado (tem uma avaliação interessante sobre a maconha), os efeitos colaterais sentidos (por exemplo, quando uma pessoa toma lítio - sim, aquele da música do Nirvana -, precisa tirar sangue periodicamente para não se intoxicar) e os trechos das consultas na psiquiatra.
Outro ponto importante do livro é a busca de Ellen para entender a associação já comprovada entre a criatividade e bipolaridade. E aí, nesses trechos da HQ, a gente conhece um pouco da biografia de alguns maníaco depressivos famosos, como Van Gogh, Edward Munch e Sylvia Plath.
Se você tem algum distúrbio de humor, acho que esse livro pode ajudar você a aceitar melhor a doença. Se você não tem, é uma importante ferramenta para você compreender e parar de julgar que depressão é apenas uma questão de mimimi.
Para finalizar, deixo um vídeo com entrevista que a escritora Ellen Forney deu a um canal de TV explicando por que desenhou Parafusos. Mesmo que não entenda a língua, é legal para ver alguns desenhos com maior nitidez e também, claro, a cara da Ellen real.
Sabem como descobri a existência desse livro publicado em 2012? Com o canal Tô Lendo. Foi o vídeo da Cláudia que me instigou a ler o livro e, adivinhem só, peguei emprestado com ela mesma. Se quiserem ver a resenha da Cláu sobre Parafusos, cliquem aqui e não se esqueçam de seguir o canal depois!
Não basta ler bastante. Quem se interessa mesmo pela escrita quer mergulhar em qualquer discussão, história ou até fofoca sobre os autores e seus livros. Por isso, separei sete filmes disponíveis no Netflix cujo tema é S2 literatura S2 (não estou me referindo a adaptações). Boa diversão!
Na época jornalista, o escritor se ofereceu para cobrir para uma revista um assassinato aterrorizante numa cidadezinha dos Estados Unidos. Porém, os dois criminosos foram encontrados e condenados à forca num processo que durou seis anos. Durante esse tempo todo, Capote fez visitas regulares aos caras na prisão e até pagou advogados para manter suas fontes vivas por mais tempo.
Além de focar nessa relação estreita (e na suposta paixão do escritor por um dos assassinos), o filme mostra um Capote egocêntrico e bem ambicioso.
A atuação de Philip Seymour Hoffman acabou lhe rendendo o Oscar de Melhor Ator.
A História de Adèle H.
Direção : François Truffaut
Ano: 1975
O longa francês conta a história da filha mais nova de Victor Hugo, que atravessou o Oceano Atlântico sozinha em pleno século XIX atrás de um oficial a serviço do exército britânico nos Estados Unidos. É claro que ela fez tudo isso escondida dos pais e é claro que Albert Pinson não dava mais a mínima para ela.
A rejeição potencializou a fragilidade psíquica da moça que, no decorrer da viagem, foi literalmente enlouquecendo. Isso não está no filme de Truffaut, mas vale dizer que há muitos casos de transtornos mentais na família Hugo (há indícios de que o próprio Victor fosse depressivo).
O escritor não aparece como personagem material, mas entender sua dinâmica familiar ajuda a entender um pouco mais a sua escrita.
Beat
Direção: Gary Walkow
Ano: 2000
A descrição do Netflix prometia que a obra falaria sobre o casamento do homossexual William S. Burroughs com Joan Volmer, mas não foi bem isso que eu encontrei.
A trama começa com o tão falado homicídio de Lucien Carr, que, em 1944, matou a golpes de canivete um cara que era apaixonado por ele.
Depois, o filme dá um salto e mostra o autor de Junky e Joan já casados e com filhos no México. Enquanto ele fazia uma viagem com um rapaz pela Guatemala, ela recebeu a visita de Carr (que havia cumprido a pena) e Ginsberg. Velhos demônios vão ressurgir daí.
O filme é bem bagunçado, não achei confiável com o que eu havia lido sobre a geração até então (onde já se viu um Lucien Carr tão pangaré?), mas vale ver pela Courtney Love, que está linda e louca fazendo o papel de Joan.
Meia Noite em Paris
Direção: Woody Allen
Ano: 2011
A passagem do americano Gil por Paris não está lá essas coisas. Ele e a noiva ficam discutindo sem parar, um antigo pretendente da moça ressurgiu e, para piorar, Gil não consegue avançar no livro que está escrevendo. Só que algo de mágico acontece, e o protagonista descobre uma espécie de portal que o leva diretamente para o iluminado círculo de artistas dos anos 20. A partir daí, Gil conviverá com Gertrude Stein, Ernest Hemingway, F. Scott e Zelda Fitzgerald e outros ícones da "geração perdida" todas as noites.
Temos mulheres de épocas e espaços distintos: a escritora da década de 20 Virginia Woolf, a dona de casa desajustada da década de 50 Laura Brown e a independente e contemporânea Clarissa Vaughn. O que une as três? A obra Mrs. Dalloway (que eu já resenhei aqui <3 ).
Por isso, recomendo fortemente que leia este livro tão curtinho e depois tente entender os parelelos com o filme.
Ah, o longa é uma adaptação do livro homônimo de Michael Cunningham.
Minhas Tardes com Margueritte
Direção: Jean Becker
Ano: 2010
Germain (interpretado por Gérard Depardieu) é um homem considerado rude desde criança. Num dia, faz amizade com uma senhorinha e, a partir daí, todas as tardes ela começa a fazer leituras para ele (incluindo A Peste, de Albert Camus), o que, obviamente, vai mudar a vida dos dois.
Acho uma reflexão bem legal sobre o papel da literatura <3
O filme francês foi baseado no livro La Tête en Friche, de Marie-Sabine Roger, que não encontrei traduzido para o português.
Terceira Pessoa
Direção: Paul Haggis
Ano: 2013
Com um elenco estrelado (tem James Franco, Liam Neeson, Adrien Brody e até Kim Basinger ), este lançamento que saiu há pouco do cinema traz histórias simultâneas e que aparentemente não se relacionam para mostrar o processo de criação do escritor. Mais não posso deixar escapar.
A construção da trama lembra bastante de Crash - No Limite, a obra do mesmo diretor que levou o Oscar de Melhor Filme em 2004.
Me impressiona a habilidade narrativa do diretor de As Horas. Acho inclusive o filme melhor que o livro, algo um pouco raro de acontecer.
Alguns dos filmes da sua lista também havia incluído em minha lista de filmes sobre escritores. Vou deixar o link caso queira dar uma olhada: http://rusga.com.br/filmes-sobre-escritores/
Durante Aquele Estranho Chá reúne 21 crônicas que Lygia Fagundes Telles escreveu ao longo da vida sobre, tcharam, literatura. Estão neste livro memórias sobre a descoberta do que a autora tanto gosta de chamar de vocação, seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras em 1987, mas o que achei de mais precioso foram os textos sobre seu convívio com outros escritores.
Sempre alguns passos lá na frente, Lygia era uma das únicas mulheres na Faculdade de Direito Largo de São Francisco e, talvez por esse atrevimento, teve a oportunidade de tomar um chá com Mário de Andrade e visitar Monteiro Lobato na prisão quando este foi pego pela ditadura de Vargas em 1941. Com a ascensão da carreira literária, participou de eventos com Jorge Luis Borges, Simone de Beauvoir e viajou com Clarice Lispector. Fora isso, era amiga de Hilda Hilst, Carlos Drummond de Andrade e Caio Fernando Abreu, mas, infelizmente, não tem texto sobre este.
Não para por aqui. O segundo marido de Lygia era ninguém menos que o crítico de cinema Paulo Emílio Sales Gomes e, assim, a escritora chegou a conviver com Glauber Rocha e a trupe do Cinema Novo.
Que vida, não é?
O que Lygia Fagundes Telles aprendeu com grandes estrelas literárias
Para incentivá-lo a largar tudo e ir atrás de Durante Aquele Estranho Chá, separei algumas citações de frases que grandes autores teriam dito para Lygia.
"Ouça, o que é mais importante para você, ser considerada mais bonita ou mais inteligente? Respondi sem pestanejar: Mais inteligente! Então ele riu o riso mais comprido daquela tarde, ah! como eu era bobinha! Livresca e bobinha! A beleza é tão importante, menina. Sei o que estou dizendo, eu que sou um canhão!"
conversa com Mário de Andrade
"todo aquele que faz o elogio da velhice, esse não pode mesmo amar a vida, não pode amar a vida."
Simone de Beauvoir
"Acreditar no sonho, entregar-se ao sonho porque só o sonho existe."
Jorge Luis Borges
"Desanuvie essa testa e compre um vestido branco!
Clarice Lispector
"O importante é não entregar os pontos, fincar o pé. Na noite escura, na negra noite dos velhos, os sons vão se amortecendo, vozes e imagens vão ficando distantes. A gente fica só. E porque está escuro, só aí é que damos com o vivíssimo olho da morte ora surgindo por detrás das moitas, por detrás de um muro, a nos espreitar... A gente então precisa acender o fogo e ficar assim vigilante, acordado."
Monteiro Lobato
Nas fotos a seguir, Lygia e Borges (à direita) e com Glauber Rocha.
Deixe um comentário:
Nenhum comentário. Seja o primeiro!